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Fátima

Santuário de Fátima repleto com 200 mil peregrinos de velas acesas

O reitor do Santuário de Fátima pediu precaução relativamente a uma “visão ideológica” da mensagem de Fátima

O recinto da Cova da Iria voltou a encher-se de peregrinos (Foto: Santuário de Fátima)

O Santuário de Fátima apresentou na noite de quinta-feira, dia 12, uma esplanada repleta com 200 mil peregrinos de velas acesas, num cenário que já não era visto na Cova da Iria desde outubro de 2019

Mais de dois anos depois, muitos milhares de fiéis de todas as idades participam na recitação do terço que dá início à peregrinação de maio ao santuário da Cova da Iria e onde, no primeiro mistério, se lembrou a situação na Ucrânia, com o padre Jorge Guarda, que conduziu a oração, a pedir que se reze “para que se busque a paz, pelo diálogo”.

Nos acessos ao santuário, eram ainda milhares os peregrinos que procuram entrar no recinto de oração, levando alguns voluntários, que trabalham no apoio aos fiéis, a reconhecerem um afluxo de pessoas superior ao que esperavam.

Sem adiantarem números, para já, as autoridades admitem que os peregrinos presentes se aproximam dos valores do que se registavam no período pré-pandemia.

“Violência atroz e bárbara da guerra”

As celebrações são presididas pelo arcebispo Edgar Peña Parra, Substituto para os Assuntos Gerais da Secretaria de Estado do Vaticano.

Na homilia da Celebração da Palavra, no primeiro dia da peregrinação aniversária ao Santuário de Fátima, o prelado reconheceu que, no mundo atual, “os egoísmos e os rancores explodem com frequência, como, neste (…) tempo, na violência atroz e bárbara da guerra, onde não há, nem vencedores, nem vencidos, mas apenas lágrimas”.

Perante 200 mil peregrinos presentes no Santuário de Fátima – segundo os serviços da instituição -, o arcebispo de origem venezuelana disse que aquelas lágrimas são “como as da Mãe de Deus, que, como (…) recordou o Papa Francisco, ‘são também sinal do pranto de Deus pelas vítimas da guerra que destrói não apenas a Ucrânia; (…) destrói todos os povos envolvidos na guerra. Todos! Pois a guerra não destrói só o povo derrotado, não, destrói também o vencedor; destrói inclusive aqueles que a observam, com notícias superficiais, para ver quem é o vencedor, quem é o vencido’”.

A Procissão das Velas num cenário semelhante ao da pré-pandemia (Foto: Santuário de Fátima)

“Esta noite caminhamos sob o olhar amoroso da Bem-Aventurada Virgem Maria para encontrarmos paz e nova luz nos nossos corações”, afirmou Edgar Peña Parra, acrescentando: “especialmente, na intimidade desta noite, a Nossa Senhora de Fátima, além da constante oração a pedir o dom da paz na Ucrânia e no mundo inteiro (…), rogamos que acolha cada um de nós sob o seu manto e guarde as nossas vidas”.

Pegando no tema do Evangelho, as bodas de Caná, a falta de vinho que o episódio relata e a intervenção da Virgem para a ultrapassagem da situação, o arcebispo alertou que, “por vezes”, também a quem julga ter tudo, “falta o essencial”.

“Sobre a mesa da nossa vida, com frequência, faltam motivações profundas, o significado das coisas que vivemos, a confiança para continuar em frente. (…) Falta-nos o vinho da fé, quando nas experiências da vida experimentamos o fracasso e o cansaço”, advertiu o presidente da peregrinação de hoje e sexta-feira ao Santuário de Fátima.

“Não estamos a pedir a conversão da Rússia”

Entretanto, o reitor do Santuário de Fátima, Carlos Cabecinhas, pediu precaução relativamente a uma “visão ideológica” da mensagem de Fátima, avisando que o contexto é diferente do vivido em 1917.

“Nós não estamos a pedir a conversão da Rússia. Nós estamos a pedir a paz e uma paz que não tem que ver com um regime ateu que procura impor o ateísmo a um país”, afirmou Carlos Cabecinhas, durante a conferência de imprensa que antecedeu a Peregrinação Internacional Aniversária de maio.

O reitor disse que a guerra na Ucrânia se deve a “uma deriva imperialista de um país que, violando as leis internacionais, invade um outro país, provocando uma guerra”, que “é uma fonte terrível de problemas”.

“A referência da Rússia no segredo não tem que ver propriamente com a geografia e com um povo, tem que ver com uma ideologia que pretende excluir de forma radical Deus daquilo que é o horizonte das pessoas”, frisou.

Segundo Carlos Cabecinhas, “quando a mensagem de Fátima fala da necessidade de conversão da Rússia, fala fundamentalmente desta necessidade de dar a Deus o lugar que a ele compete na vida dos crentes”.

“Neste momento, na Ucrânia, não temos uma guerra religiosa. Não temos, por um lado, um regime que procure afastar Deus do horizonte das pessoas e, por outro lado, um regime que procure defender essa presença de Deus. A situação é outra, os tempos são outros, o horizonte mudou radicalmente”, sublinhou.

O bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, lembrou que os primeiros destinatários da mensagem de Fátima foram três crianças que apenas entenderam “a enormidade que é a guerra”.

José Ornelas aproveitou a conferência de imprensa para falar da passagem do papa Francisco por Fátima, a propósito da Jornada Mundial da Juventude, que decorrerá no próximo ano, em Lisboa.

Segundo o prelado, a diocese e o santuário “não são propriamente a meta final, mas são o ponto de partida”.

“Para os nossos jovens, isso é particularmente importante. Hoje a mobilidade está no coração dos jovens. Eles fazem as experiências de internacionalidade junto com a sua formação universitária, os Eramus e tantas outras dinâmicas”, acrescentou.

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