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Sociedade

Pinhal: Autarquias ganham talhões e trabalham com ICNF na recuperação de “tesouro nacional”

Passam cinco anos do incêndio que devastou o Pinhal do Rei. Para assinalar a data, ministério do Ambiente e autarquias assinam protocolo para gestão partilhada de talhões.

Recuperar a identidade da região envolvendo a comunidade em ações de reflorestação nas matas nacionais, em sessões de educação ambiental ou de restauro ecológico são algumas das possibilidades que o protocolo, hoje assinado, entre autarquias e ministério do Ambiente e da Ação Climática vai permitir desenvolver nos próximos anos.

Cinco anos depois do grande incêndio que consumiu 86% da área da Mata Nacional de Leiria e 55% da Mata Nacional do Urso, Duarte Cordeiro visitou a região para ver que foi feito para recuperar esta extensa área de “tesouro nacional”, mas também para verificar que “muito falta ainda fazer”.

O ponto de partida foi a lagoa da Ervedeira, na freguesia do Coimbrão, Leiria, onde foi assinado o protocolo, em vigor por períodos de cinco anos, renováveis automaticamente, entre o ministério do Ambiente e da Ação Climática, através do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, e em parceria com os Municípios de Leiria, Marinha Grande, Pombal e a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL): a “expressão dessa solidariedade e do empenho, aqui renovado, do Governo na recuperação deste território”.

“A natureza e a biodiversidade têm os seus tempos e os da regeneração natural são longos, ultrapassam os das gerações humanas”, afirmou o ministro, lembrando que “neste território começou-se pelo corte e pela remoção do material lenhoso ardido, a que se seguiram a limpeza e preparação dos terrenos, sementeira e plantação e aproveitamento da regeneração para a rearborização”.

Na Mata Nacional do Urso, entre 2018 e 2022, foram investidos cerca de 1,5 milhões de euros, que abrangeram mais de 2 mil hectares de floresta, em que 989 hectares estão a receber os trabalhos finais de rearborização. Já na Mata Nacional de Leiria, descreveu o responsável, o investimento está próximo dos 3,4 milhões de euros e possibilitou a rearborização de mais de 2.600 hectares de floresta. Estão ainda contratualizadas ações de rearborização e de aproveitamento de regeneração natural em 6.170 hectares.

“Até 2025, (…) vamos prosseguir o investimento, com outros 5,6 milhões de euros destinados à arborização e rearborização, ao aproveitamento de regeneração natural, ao controlo de invasoras lenhosas, à gestão ativa de combustíveis e à beneficiação da rede viária florestal”, anunciou Duarte Cordeiro.

Três autarquias, três talhões

“As Matas Nacionais de Leiria, de Pedrógão e do Urso dizem-nos quem somos, na medida em que se assumem como elemento marcante da nossa identidade, sendo assimiladas como bandeira e lar pela maioria dos habitantes destes três concelhos”, disse Gonçalo Lopes, presidente da Câmara de Leiria e da CIMRL.

O autarca reconhece que apesar do trabalho de regeneração desenvolvido nos últimos anos, “a perceção dos nossos munícipes é que estamos ainda muito aquém face ao valor que estes 17 mil hectares de floresta representam para a nossa comunidade”, pelo que vê com especial satisfação a assinatura do protocolo, momento que contribui “para a superação de um trauma que continua muito vivo nesta região” e para “uma participação mais efetiva dos Municípios de Leiria, Marinha Grande e Pombal no esforço e recuperação da área ardida”.

O Município de Leiria passa assim a ter um papel ativo na gestão de um talhão de 27 hectares, junto à lagoa da Ervedeira (talhão nº 263), ao passo que a Marinha Grande irá gerir um talhão próximo da praia do Samouco, Talhão nº 145, numa área de 28 hectares, na Mata Nacional de Leiria, e Pombal fica no Talhão nº 88 da Mata Nacional do Urso, numa área de 17 hectares.

O documento estabelece a salvaguarda dos exemplares de espécies arbóreas, arbustivas e subarbustivas protegidas, nomeadamente o pinheiro-bravo, pinheiro-manso, sobreiro, azinheira, carvalhos, juníperos, medronheiro, samouco e camarinha.

Controlo das invasoras

A visita prosseguiu até ao Posto de Vigia da Crastinha, onde o ministro, em declarações aos jornalistas, explicou que a rearborização do Pinhal de Leiria surge agora, depois de verificar quais as zonas de arborização natural que não tiveram sucesso. “Se a regeneração natural funcionar é mais forte e aquela que tem maior potencial de sucesso. Temos de permitir que a natureza, de alguma maneira, assuma o próprio território”, acrescentou.

O presidente do ICNF, Nuno Banza, destacou os “milhares de hectares em que houve intervenção” e as áreas onde “propositadamente” não intervieram para dar tempo à regeneração natural.

Segundo este responsável, após a avaliação das árvores que “nasceram do banco de sementes que existia” no solo do pinhal, as que foram plantadas e secaram e as que não regeneraram, o ICNF irá repor o que for necessário para que se volte a “ter um novo pinhal e uma nova Mata Nacional de Leiria”.

Nuno Banza lembrou que o Plano de Gestão Florestal prevê “o aproveitamento da regeneração natural, a replantação, mas prevê, sobretudo, um equilíbrio entre aquilo que são as condições de crescimento das espécies florestais e aquilo que precisamos que seja a sua capacidade de resiliência”.

“Estamos no terreno todos os dias a intervir, a tomar medidas e a acreditar que no futuro, mesmo que não sejamos nós, os vindouros vão voltar a ter uma mata nacional, diria mais resiliente”, acrescentou.

Sobre as críticas de vários especialistas que consideram que o ICNF já vai tarde para intervir nas espécies invasoras, Nuno Banza sublinhou que “não há áreas que estejam ocupadas com espécies exóticas invasoras que não vão ter intervenção”.

Segundo disse, à medida que os pinheiros forem crescendo, vão “condicionar o crescimento das espécies invasoras”.

“Não houve nenhuma decisão que tenha sido errada. Temos todas as medidas contratadas e estamos no terreno a fazer o controlo das exóticas invasoras”, insistiu.

Nuno Banza explicou ainda que parte da madeira ardida foi triturada e colocada no solo e “com isso melhorar a quantidade de matéria orgânica” no solo, “que vai permitir melhores condições ao crescimento do pinhal”.

Com Lusa

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