A intenção de reconciliar Leiria com três dos seus órgãos que nos últimos anos têm passado quase despercebidos é o objetivo da primeira edição do ciclo de órgão organizado pelo Orfeão de Leiria de 10 e 12 de março.
“Começámos a pensar, no pós-covid, que estava na altura de mostrar à cidade quais são os instrumentos que temos e, de certa forma, reconciliá-los com a comunidade”, explicou à agência Lusa a diretora artística do I Ciclo de Órgão de Leiria.
A vontade para esse reencontro com a comunidade surgiu de um certo silenciamento dos órgãos de Leiria, atualmente quatro.
“A cidade conta com a presença de um número pequeno de instrumentos”, notou Rute Martins, que também é organista.
O mais relevante, descreveu, é o órgão da Sé Catedral, que está a comemorar 25 anos. A efeméride foi assinalada com um concerto com o alemão Wolfgang Seifen, em outubro de 2022.
“Foi um bálsamo ver a catedral cheia para ouvir a música para órgão de um grande improvisador. Queremos que esta dinâmica continue na cidade, que os instrumentos não se percam e que sejam valorizados”.
Rute Martins lembrou que esse órgão de Leiria, inaugurado em 1997, “durante muito tempo foi o maior entre Lisboa e Porto”.
“Durante o primeiro ano, houve concertos regulares todos os meses, que eram bastante participados pela população”, recordou. Mas, depois, essa programação desapareceu, ambicionando o novo ciclo que estreia em março recuperar a ligação entre o público e os órgãos de Leiria.
Além do grande órgão da Sé de Leiria, o ciclo do Orfeão vai passar pelo Seminário Diocesano de Leiria, onde mora outro órgão, que “atualmente não está nas melhores condições”.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Mas nele será feito um pequeno apontamento para um programa onde o destaque será o repertório para canto e harmónio de arte, “um ilustre desconhecido do mundo instrumental, mas que será uma surpresa e uma inovação a nível regional”.
Outro destaque do ciclo será a utilização do vistoso órgão ibérico da igreja de Nossa Senhora da Encarnação, construído há dois séculos por Joaquim António Peres Fontanes para a Sé de Leiria. Em 1995, foi instalado na localização atual.
“Tem 200 anos e necessita de continuar a ser valorizado pelas gerações futuras. É um instrumento histórico, de armário, e quem entra na igreja não se apercebe de todo que é um instrumento, porque está fechado. Mas quando se abre é o esplendor total”, conta a organista, realçando “a ótima potência sonora” e o timbre, “bastante diferente do órgão da Sé”.
Segundo Rute Martins, a intenção é fazer crescer o Ciclo de Órgão de Leiria no futuro.
“Este primeiro ciclo é pequenino, mas queremos expandi-lo no próximo ano e torná-lo internacional”, apresentando “intérpretes de outros países da Europa”.
O primeiro concerto, no dia 10 de março, intitula-se “Um trio que canta” e junta na Sé de Leiria Rute Martins (órgão), Carla Antunes (flauta transversal) e Gonçalo Pereira (fagote).
Na Igreja do Seminário Diocesano, João Paulo Ferreira (contra tenor) e João Santos (harmónio de arte Mustel) apresentam “Inspirando ar, expirando música”, no dia 11 de março.
O ciclo encerra com “Música para instrumentos de tecla”, em 12 de março, Samuel Monteiro e Guilherme Faure, da Universidade de Aveiro, a tocarem o órgão do Santuário de Nossa Senhora da Encarnação.