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Harmónio de arte é um tesouro menosprezado que João Santos está a projetar a partir do Barracão

O organista criou um ateliê em casa para dar aulas informais de órgão e também de harmónio de arte, uma paixão que anda a explorar e que apresenta ao vivo no sábado, dia 11, no âmbito do I Ciclo de Órgão de Leiria.

joão santos sentado num harmónio
João Santos com o harmónio Mustel no atelier que criou no Barracão

João Santos nem queria acreditar: havia um harmónio de arte Mustel – um dos escassos dois mil construídos no século XIX – a ser oferecido na internet, mas tinha de o ir buscar à Ilha de Man. “Tive de ir ver onde ficava”, confessa o organista, que depois de esclarecer os termos, embarcou até à ilha entalada entre Inglaterra e Irlanda para recolher a raridade.

O surpreendente instrumento construído em 1899/90 está em destaque no ateliê fort’Expressivo, que João criou no Barracão, no concelho de Leiria, batizando-o com um nome inspirado num dos registos do harmónio de arte. Ao lado está um Reed Organ holandês, também doado. Em breve junta-se-lhes outro harmónio de arte, alemão. “Este tipo de instrumentos trazem uma marca humana incrível”, destaca o músico, lembrando inúmeras histórias e peripécias passadas numa longevidade de décadas ou até séculos.

A “coleção” de órgãos e harmónios de arte que acumulou forçaram-no a tomar uma decisão. “Comecei a ter muitos instrumentos dentro de casa e a minha mãe começou a achar que estava a ficar com pouco espaço”. Pensou vender algum, mas optou por criar o ateliê: “Desbloqueio a casa e ponho a render, com aulas”.

As primeiras aconteceram no sábado: quatro alunos acorreram à estreia da tutoria musical de fort’Expressivo, onde se esclarecem dúvidas, dão-se explicações, aprimoram-se conhecimentos. “A ideia não é criar um plano de estudos. Isso já existe em Leiria”, esclarece João Santos, antigo aluno da classe de órgão do Orfeão. No Barracão, as portas estão abertas tanto “para quem toca à missa, com dois dedos”, como para quem se prepara para o ensino superior.

Em paralelo, João estuda ali a mais recente paixão: o harmónio de arte, que se destaca pela expressividade, mas que foi algo menosprezado pela função litúrgica a que tendencialmente o remeteram.

“Num órgão de tubos, não é possível o tubo ter uma coluna de ar diferente da que está projetada. Aqui não: a palheta, se vibrar muito é forte, se vibrar pouco é piano”. E é aí que se destaca.

Instrumentos como o que foi buscar à Ilha de Man, assinados por Victor Mustel, “há três ou quatro em Portugal” a merecer investigação.

Para já, vai ser possível ouvir o harmónio de arte que estava esquecido no Seminário de Leiria, um Mustel de 1909, “topo de gama”. O concerto deste sábado, dia 11, “representa o renascimento deste instrumento. É raro ouvir um destes e este vai ser tocado de uma forma como nunca o foi”, ou seja, com repertório artístico e não litúrgico.

“Um instrumento especial, com uma voz especial, como a do João Paulo, tem tudo para surpreender muita gente”, promete.

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