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Sociedade

Provedoria da Justiça recebeu 1.500 queixas relativas aos atestados de incapacidade multiuso

Relatório da Provedoria confirma atrasos de três anos na emissão de AMIM em algumas zonas do país, incluindo a região de Leiria

Relatório sugere que as avaliações de incapacidade possam ser realizadas por apenas um médico

A Provedoria de Justiça recebeu nos últimos cinco anos cerca de 1.500 queixas relacionadas com os atestados médicos de incapacidade multiuso (AMIM), a maioria relacionada com os atrasos registados na realização de juntas médicas para a sua emissão.

“Não obstante os avanços registados, persistem vários problemas por resolver no sistema de avaliação de incapacidade das pessoas com deficiência, a par de consideráveis atrasos na emissão dos atestados”, frisa a provedora Maria Lúcia Amaral, num relatório divulgado esta semana.

No documento, a provedora sistematiza um conjunto de preocupações no que toca à recuperação de pendências, benefícios fiscais, apoios sociais, modelo do AMIM e situações particulares que considera carecer de atenção, e aponta recomendações.

A provedora lembra que o AMIM é um documento central no acesso a uma série de direitos atribuídos às pessoas com um determinado grau de incapacidade (em geral, igual ou superior a 60%), permitindo o acesso, por exemplo, “à isenção de taxas moderadoras; benefícios em sede de imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS); isenção do imposto único de circulação (IUC) e sobre veículos (ISV); cartão de estacionamento; prestação social de inclusão (PSI); atribuição gratuita de alguns produtos de apoio; desconto em transportes públicos; e bolsa de estudo no ensino superior”.

Maria Lúcia Amaral considera, contudo, que a resposta das autoridades de saúde não acompanhou o crescimento do número de requerimentos nos últimos 14 anos, tendo aumentado “os atrasos na realização das juntas médicas de avaliação das incapacidades das pessoas com deficiência (JMAI)”.

A situação agravou-se durante a pandemia de Covid-19 e “persistiu para além dela”, acrescenta. E isto não obstante “a prorrogação da validade dos AMIM sujeitos a renovação ou reavaliação, a flexibilização da constituição das juntas médicas (deixando de ser reservada a médicos de saúde pública), a simplificação do modelo de certificação de doentes oncológicos e a possibilidade de avaliação com dispensa de observação presencial do interessado”.

A provedora destaca atrasos superiores a três anos em várias zonas do país, incluindo na área abrangida pelo extinto Agrupamento de Centros de Saúde Pinhal Litoral, como deu recentemente conta o REGIÃO DE LEIRIA na sequência de atrasos com mais de dois anos denunciados por doentes com esclerose múltipla residentes na zona de Leiria. Ora a lei prevê que as avaliações das JMAI decorram no prazo de 60 dias a partir da data do requerimento.

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Provedora da Justiça denuncia o registo de atrasos de três anos na emissão dos AMIM em algumas zonas do país, entre as quais a referente ao extinto Agrupamento de Centros de Saúde Pinhal Litoral (Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós)

Entre outras recomendações, Maria Lúcia Amaral propõe que as avaliações possam ser realizadas por um só médico em vez de três, mantendo-se as juntas médicas situações “de particular complexidade e para os casos em que seja apresentado recurso da avaliação inicial”. Sugere ainda que seja dada prioridade à marcação das JMAI para primeira avaliação, e que as medidas tomadas para salvaguardar os direitos dos doentes oncológicos recém-diagnosticados sejam estendidas aos doentes seguidos fora do SNS, “independentemente da natureza da unidade de saúde onde são acompanhados”.

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