Idosos de quatro freguesias do concelho de Leiria vão participar no projeto “Gerações em palco”, que tem como objetivo quebrar o isolamento de pessoas maiores de 65 anos através da criação de uma orquestra de bombos, envolvendo também alunos de música.
Promovido pelo Instituto Jovens Músicos (IJM), sediado na Caranguejeira, e apoiado pelo programa Portugal Inovação Social (PIS), “Gerações em palco” arranca em setembro e decorre até 2028. A meta é envolver 80 seniores, mas a diretora de projetos, Felisbela Marques, acredita ser possível duplicar esse número.
“Com este projeto pretendemos que os idosos, se puderem, brilhem e percebam que a idade não é um entrave. Ainda há muito caminho por fazer. É importante mostrar-lhes que a solidão não é a única opção”, explicou à agência Lusa. A iniciativa é a segunda do IJM apoiada pelo PIS, depois de “Gerações em 2 pautas”, lançada em 2021.
Através de uma abordagem terapêutica centrada na gestão das emoções, o projeto pretende combater o isolamento social da população sénior das freguesias da Caranguejeira, Arrabal, Santa Catarina da Serra e Chainça e Santa Eufémia e Boa Vista, promovendo o bem-estar emocional e incentivando a autorregulação, avança a instituição.
Entre outras ações, “Gerações em palco” contempla a criação de um repertório itinerante protagonizado por uma orquestra de bombos constituída por avós, em colaboração com crianças e jovens. Segundo o IJM, “esta dinâmica musical e cénica promoverá o diálogo intergeracional e a partilha de saberes e tradições”.
Capacitação artística
Felisbela Marques partilha também a intenção de promover, através dos bombos, “um reforço da força muscular dos nossos idosos”, muitos com passado ligado à agricultura, mas sem “um desenvolvimento contínuo da massa muscular”. “Não têm força e perdem muitas habilidades” e, por isso, através dos bombos “queremos pô-los a desenvolver um bocadinho de força”.
A orquestra arrancará com repertório tradicional que permita motivar os participantes. Posteriormente, com o envolvimento de alunos jovens do IJM, a formação vai entrar por outros estilos, “como o pop-rock, o contemporâneo ou o clássico”.
“Ou seja, é viajar um bocadinho, mas primeiro temos de ganhar a confiança e a confiança vem, sem dúvida, através da música tradicional”, antecipa a responsável, que espera juntar à capacitação física e artística, a componente social com o convívio entre a população mais velha e também desta com os jovens.
“É fácil uma pessoa mais crescida ir às compras e estar com pessoas, ter acesso a uma panóplia de serviços numa cidade. Mas aqui [na Caranguejeira] não há passeios, não há transportes e os idosos acabam por ficar um bocadinho isolados”, lamentou Felisbela Marques, referindo-se ao contexto rural em que vai ser desenvolvido “Gerações em palco”. Para esta faixa de população, resta apenas a oferta das instituições de apoio social ou “ir para um café”.
“Quais são as opções para alguém com mais de 65 anos conviver aqui na Caranguejeira?”, interroga-se, lembrando a motivação que esteve na origem do projeto.
Numa primeira fase, o projeto, que também tem “uma componente de multiculturalidade” e visa “quebrar barreiras”, vai funcionar no IJM, no ginásio K Gym, na Conferência de São Vicente Paulo e nas Cáritas das freguesias. Serão, posteriormente, avaliados os meios disponíveis “para desenvolver as dinâmicas mais próximas dos locais onde habitam [os participantes], sobretudo junto dos que tenham mais dificuldades”, explicou a responsável.
“Gerações em Palco” conta, além do apoio do PIS, com o investimento da Câmara Municipal de Leiria, da Fundação “la Caixa” e de empresas locais.
