É natural que alguns dos leitores passem férias junto ao mar ou apenas ali se desloquem, para passarem o dia. Contudo é necessário ter algum cuidado com os segredos perigosos que o mar contém. Não vou aqui referir-me a eles porque julgo que o que vou contar é suficiente para perceberem melhor a forma segura como devemos beneficiar dos ares e da água do mar. Apenas recordo que nadar no mar não é o mesmo que nadar numa piscina.
No ano de 1965 fui colocado na colónia de férias dos Serviços Sociais da PSP, na Praia da Vieira, como nadador-salvador. A colónia funcionava em turnos de 15 dias, ao fim dos quais as famílias eram rendidas, por outros veraneantes. Eram 30 casas devidamente numeradas para efeitos logísticos. Num dia antes da rendição de um dos turnos, um grupo de jovens, filhos dos associados ali em férias, levou a efeito um peditório nas referidas moradias, cuja receita me foi ofertada como gratificação, juntamente com o donativo, entregaram-me também uma relação com o número da casa e a quantia ofertada. E da casa 24 vinha a seguinte anotação: “Não deu nada, dizendo que não necessitava de nadador-salvador porque sabia nadar”. Na manhã do dia da rendição dos turnos, alguns dos associados ainda iam tomar banho ao mar como despedida. Ali mesmo junto à foz do Lis, verifico que um homem é arrastado pela corrente. Exausto braceja a pedir socorro. Lanço-me ao mar com a minha boia e trago o senhor para terra. Enquanto enrolo a corda deixo de ver o socorrido. Não o conhecia, nem sabia se era da colónia ou da povoação.
Pouco depois, estava na hora da rendição do turno e das despedidas. Como de costume eu estava lá. Com surpresa minha, verifico que um miúdo, muito apressado, chamava por mim, dizendo para ir a sua casa que o pai desejava falar-me. E corri com o rapazinho até lá. O pai estava à porta e, imediatamente, o reconheci. Era o homem que pouco antes eu tinha salvo de ficar no mar. Pediu desculpas, agradeceu e gratificou-me. Quando me retirei olhei para cima da porta e verifico que tinha o número 24. Fiquei a pensar porque recordei a relação dos jovens. Seria este senhor que disse “…. Sei nadar não necessito de nadador-salvador…”. Na dúvida fui a casa verificar a relação e era mesmo a casa 24. E pensei como é possível estas coisas acontecerem?
Caros leitores, quando forem para a praia e quiserem nadar lembrem-se deste acontecimento. Na minha terra o povo costumava dizer: “Pela boca morre o peixe”.
António Gomes Lameiro