A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) emitiu parecer desfavorável ao projeto da central solar flutuante da albufeira do Cabril, nos concelhos de Pedrógão Grande, Pampilhosa da Serra e Sertã, anunciou hoje a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL).
“Esta decisão representa um importante reconhecimento das legítimas preocupações da região e da população em geral, que têm alertado para os graves impactos ambientais e socioeconómicos que tal infraestrutura implicaria”, refere a Comunidade Intermunicipal (CIM) numa publicação na rede social Facebook, considerando esta decisão uma “vitória para o território”.
Na mesma publicação, a CIMRL diz aguardar agora que “esta posição seja mantida e reforçada, com o cancelamento definitivo do projeto”, salvaguardando a proteção ambiental do ecossistema do Cabril e a segurança e bem-estar das populações locais.
“A defesa do território e da sustentabilidade venceu esta etapa. Continuaremos atentos e mobilizados”, garantiu ainda.
O projeto da central fotovoltaica flutuante na albufeira do Cabril prevê 82.368 painéis solares, segundo o estudo de impacto ambiental disponível na plataforma participa.pt.
“O projeto da central fotovoltaica flutuante de Cabril terá uma potência de ligação de 47,77 MWp [mega watt-pico] gerada em 82.368 painéis solares, cada um capaz de produzir uma potência de pico de 580 Wp e ocupando uma área total de painéis de 33,97 hectares”, revela o resumo não técnico do estudo.
A unidade mega watt-pico corresponde à potência máxima de um conjunto de painéis solares nas condições ‘standard’, isto é, radiação solar de 1.000 watts/m2 e 25 graus de temperatura.
O documento adianta que “a produção elétrica anual expectável atingirá” cerca de 73.799 megawatt por hora, sendo que a energia gerada vai ser injetada na Rede Elétrica de Serviço Público.
A central, projeto da empresa Voltalia, que ganhou o leilão solar flutuante para o Cabril, está prevista para território dos concelhos de Pedrógão Grande (distrito de Leiria), Pampilhosa da Serra (Coimbra) e Sertã (Castelo Branco).
Com as duas linhas elétricas aéreas associadas (uma de 3,44 quilómetros e outra de 21,21 quilómetros), o projeto chega também aos concelhos de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos (Leiria), e Penela (Coimbra).
Em abril de 2022, na sequência do leilão do Governo para a exploração de 263 megawatts de energia solar em sete barragens do país, o lote do Cabril foi adjudicado à Voltalia.
Então, a Voltalia explicou, em nota de imprensa, que a capacidade instalada da central “será entre 33 MW e 40 MW, dependendo da otimização final do projeto”.
“Com 33 hectares, a central vai fornecer energia verde para um volume equivalente ao consumo de 70.300 habitantes”, esclareceu a empresa, referindo que a expectativa é a de que “o projeto seja comissionado até 2026”.
Quanto às receitas, “serão suportadas por um contrato de 15 anos atribuído pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática, prevendo um preço de 41.025 euros por megawatt-hora”, referiu a empresa.
Em abril, as comunidades intermunicipais da Região de Leiria, Região de Coimbra e Beira Baixa pediram o cancelamento deste projeto.
“O cancelamento do projeto deve ser imediatamente determinado, garantindo a proteção ambiental e a segurança das populações locais, com as devidas consequências jurídicas para a empresa concessionária e para os órgãos decisores envolvidos”, sustentaram as três regiões.
Um mês antes, esta posição já tinha sido assumida pela CIM Região de Leiria, tendo sido, entretanto, subscrita pela CIM Região de Coimbra e Beira Baixa, com as três CIM a defenderem que, “face aos impactos ambientais, socioeconómicos e legais identificados, torna-se imperativo” que a Agência Portuguesa do Ambiente e demais entidades públicas “reconsiderem a decisão”.
Pedrógão Grande espera que processo da central solar na albufeira do Cabril seja cancelado
O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, António Lopes, disse hoje esperar que o processo da central solar flutuante na albufeira do Cabril seja cancelado após o parecer desfavorável da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“Espero que o processo seja encerrado de vez, espero que o processo seja cancelado”, afirmou à agência Lusa António Lopes, considerando que, com a decisão da APA, “ficam a ganhar os municípios envolvidos e o território”.
Ainda segundo o presidente deste município, “com esta decisão está garantido o desenvolvimento estratégico do concelho através do turismo”, assim como a “salvaguarda ambiental, a segurança e o bem-estar da população e das pessoas que procuram o concelho”.
Já na rede social Facebook, a Câmara referiu que esta decisão “foi o corolário de um processo desgastante” e agradeceu “todo o apoio da população e daqueles que se manifestaram contra a sua instalação em sede de consulta pública”.
“Um agradecimento muito especial às comunidades intermunicipais de Leiria, Coimbra e Beira Baixa, que nos apoiaram na defesa deste património único”, lê-se na mesma publicação, que assinala que “o ambiente, o Cabril e o concelho estão de parabéns”.