O reforço do “bem-estar dos estudantes” é uma das apostas sublinhadas esta tarde, em Leiria, pelo ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, na sessão solene que assinalou a abertura oficial do ano académico 2025/2026 e celebrou o 45.º aniversário do Politécnico de Leiria.
Entre as medidas em preparação pelo Governo estão uma maior aposta na integração, alterações na forma como se aplica a ação social e como se definem as vagas no ensino superior, bem como nas próprias aprendizagens. A mudança em curso, acelerada pela tecnologia, é incontornável, argumenta.
Responsável pela oração de sapiência na abertura do ano letivo, Fernando Alexandre optou por “fintar” o foco central da mensagem que Carlos Rabadão, presidente da instituição aniversariante, tinha deixado instantes antes no seu discurso: “O Politécnico de Leiria ambiciona transformar-se na Universidade de Leiria e Oeste — uma universidade pública, fortemente ancorada no território, orientada para o desenvolvimento regional e com uma clara vocação internacional.”
No seu discurso, Carlos Rabadão apresentou vários argumentos para sustentar a pretensão já formalizada junto do ministério, afirmando que “a futura Universidade de Leiria e Oeste representará também um ativo estratégico para o país, reforçando o sistema público de ensino superior e contribuindo para uma rede universitária mais equilibrada e coesa.”

O ministro que tutela o ensino superior, antigo membro do Conselho Geral do Politécnico de Leiria, evitou o tema, ainda que não tenha resgatado elogios: “Parabéns para o Instituto Politécnico de Leiria, pelo percurso que fez ao longo destes 45 anos, em que se afirmou como uma das principais instituições de ensino superior do nosso país. Em múltiplas áreas, seja na formação dos estudantes, seja na investigação e seja também aquela que é uma marca muito distintiva desta instituição, na forma como se relaciona com o território, como contribui para o desenvolvimento e que depois se reflete nos números muito impressionantes que têm de parcerias com empresas e com entidades externas ao Instituto Politécnico.”
O tema, contudo, era o ensino superior e Fernando Alexandre traçou o cenário de um futuro de grande mudança, sendo que boa parte está a ser preparada pelo seu gabinete.
“Sabemos que os cursos que têm maior percentagem de alunos que entram em primeira opção são cursos com mais sucesso académico”, explicou o governante, que anunciou a revisão do sistema de ação social, com “bolsas diferenciadas para alunos deslocados e não deslocados” e um “incentivo aos estudantes de rendimentos mais baixos.”
Fernando Alexandre defendeu que o apoio estatal deve ser reforçado para compensar o “custo de oportunidade” de um aluno de famílias de baixos rendimentos que opta por continuar a estudar ao invés de ingressar no mercado de trabalho.
O titular da pasta do ensino superior anunciou igualmente a intenção de flexibilizar o número de vagas, até 10%, para permitir uma maior correspondência entre o curso e a instituição pretendida pelo aluno. “Os chamados ‘numerus clausus dificultam muito a alteração das vagas. Não vamos acabar com os ‘numerus clausus’. Mas queremos flexibilizar. Ou seja, queremos permitir que as instituições possam fazer variar um pouco a sua oferta”, adiantou. E deixou um exemplo: “Imaginem que alguém aqui de Leiria quer entrar num curso em Leiria. O curso tem 50 vagas e ele ficou em 51.º. E por causa disso vai para, imaginem, Vila Real, que é uma belíssima terra, mas muito longe daqui.”
Na prática, explicou, “ele queria ficar no sítio onde vive, onde há uma instituição de ensino superior, cuja primeira finalidade foi precisamente garantir o acesso ao ensino superior àqueles que vivem na região. Depois, mesmo que a instituição até tivesse capacidade de aumentar as vagas, porque não é permitido pelo Governo — que é assim que é feito — esse estudante acaba em Vila Real.” Em suma, atualmente, “nós promovemos o número de deslocados do ensino superior.”

Nas circunstâncias em que os alunos estão efetivamente deslocados, com o previsível aumento do número de camas nas residências universitárias, em resultado das obras em curso, aquelas devem ser “espaços de integração, sobretudo para alunos do primeiro ano” e não apenas para os alunos que beneficiam da ação social.
O ministro que usa o ChatGPT
Instando as instituições a reforçar a oferta formativa em inglês, por causa da crescente internacionalização do ensino, o governante também aconselha a que se olhe de frente as novas tecnologias, em particular a Inteligência Artificial (IA), para além de defender ser necessário “mudar o ensino”, tornando-o mais prático e estimulante.
Com a IA a ganhar crescente relevância também no sistema educativo, o ministro não vê forma de a evitar. Pelo contrário, a adaptação e a capacidade de a aproveitar serão essenciais.
“Não vale a pena acreditar que é possível atrasar o desenvolvimento da inteligência artificial — não conseguimos parar o vento com as mãos”, argumentou. O ensino superior deve preparar os estudantes “para saber usar” estas ferramentas, desenvolvendo “pensamento crítico, criatividade e capacidade de fazer perguntas.”
Em concreto, esta mudança tem impacto nos “métodos de avaliação” que, “obviamente, têm de mudar.” Enquanto professor, adianta, a avaliação de um ensaio a produzir pelo aluno, um dos métodos de avaliação que utilizava, perdeu valor, uma vez que a IA democratizou o acesso a esses conteúdos. Por outro lado, “o inglês das teses melhorou espetacularmente. Mas, se usarem o ChatGPT para corrigir um texto — como eu também faço — podem aprender inglês ao fazê-lo.” O essencial, defende, é que será cada vez mais necessário “ter um olhar crítico sobre o texto.”
Neste contexto de mudança, Fernando Alexandre não tem dúvidas de que o valor dos diplomas está a mudar: “Cada vez mais, o que vai ser valorizado são as competências, não o diploma.”
“O diploma está-se claramente a desvalorizar e, em muitas áreas, tornar-se-á irrelevante”, afirmou. “E por isso, na oferta formativa das instituições, cada vez mais, aquilo que é fundamental é garantir as competências para as pessoas que frequentam uma determinada formação.”
O sistema deve adaptar-se através de “microcredenciais” e da revisão do “decreto-lei dos graus e diplomas”, defende.