Foi com um discurso duro, marcado por críticas aos antecessores, que Paulo Vicente carimbou, esta noite, o regresso às funções que ocupou de 2015 a 2017, como presidente da Câmara da Marinha Grande.
Para quem procurava sinais sobre a geometria dos entendimentos que a liderança socialista poderá seguir, terá assistido ao fechar de portas à direita. Com três eleitos, o PS necessita de mais um elemento no executivo para assegurar uma maioria. O +MPM, que perdeu a presidência da Câmara, conta com dois vereadores, e a CDU e o Chega têm um cada.
Paulo Vicente deixou uma certeza: “vamos dialogar com todos”, mas não é estranho o empenho do PS em evitar entendimentos com o partido de André Ventura. E o discurso desta noite deverá ter tornado pouco provável o estabelecimento de pontes com a força que acabou de deixar a liderança. E porquê? Ao anunciar que a aposta prioritária da sua presidência passa pela saúde, educação e habitação, Paulo Vicente salientou: “Existem 74 apartamentos vagos, propriedade do município, mas sem que nenhuma família neles habite hoje em dia, por insensibilidade social. Quando existem mais de 650 famílias que vivem em situações degradantes, à espera de acesso a habitação social condigna e quando existem habitações devolutas e nada se fez para recuperar, para nós esta realidade não é mera incompetência, porque de um crime se tratou.”
Mas as críticas à presidência anterior não se ficaram por aí. A falta de aproveitamento de fundos do PRR para recuperar o Centro de Saúde e as “nomeações inconsequentes” na estrutura camarária foram apenas alguns dos aspetos sublinhados. Para o novo presidente, a “demagogia perdeu com estrondo” nas eleições de dia 12.

O novo presidente assume a necessidade de romper com o imobilismo e cumprir o programa eleitoral com determinação e respeito democrático: “Sem perdas de tempo. Sem protelamentos, com estratégias políticas disruptivas de constante adiamento. Essa forma de estar conheceu os seus dias. E não serve.” Paulo Vicente defende uma governação prática e orientada para resultados: “Aos políticos pedem-se apenas três coisas: pensar em soluções, apresentar projetos, discuti-los e, claro, executá-los”, adiantou.
“Quem se quiser associar ao futuro encontrará em nós a melhor colaboração. Já quem optar por continuar num caminho desgastado, triste e destrutivo, da nossa parte, apenas contará com a indiferença e com o mais absoluto silêncio”, reforçou. No seu discurso, o novo presidente prestou homenagem a Álvaro Órfão, “o melhor presidente de Câmara que a nossa terra conheceu”, assumindo-o como modelo de liderança.
Reabilitar o centro de saúde, garantir transportes públicos gratuitos, apostar no desenvolvimento económico, construir a piscina, o novo mercado e a nova residência de estudantes foram algumas das promessas que enunciou.
“A tão esperada e adiada piscina municipal estará concluída até ao fim do mandato. O mercado municipal será uma realidade até ao final do mandato que hoje se inicia. Até 2029, teremos os transportes públicos gratuitos inseridos numa estratégia de mobilidade com grande ênfase nos transportes públicos com energias limpas”, referiu.
O momento que mais aplausos arrancou foi dirigido aos presidentes de junta: “É convosco que celebraremos, nos próximos meses, os tão necessários e determinantes contratos interadministrativos.”
Numa nova crítica a quem perdeu o ato eleitoral de dia 12, Paulo Vicente reforçou que “a mentira, a omissão, o disfarce e a dissimulação total” perderam. E deixou o alerta: “São de enorme desafio os tempos que se avizinham.” “Grandes dificuldades e desagradáveis surpresas são aquelas com que nos iremos deparar no futuro imediato”, acrescentou, para deixar a certeza: “Iremos alcançar tudo o que de nós se espera.”
Numa cerimónia que decorreu esta noite num Teatro Stephens absolutamente lotado, Paulo Vicente deu o mote para o seu regresso à gestão municipal, oito anos depois de a ter deixado. Regressa pela mão do PS, partido que retoma o poder municipal quatro anos depois de ter sido derrotado pelo +MPM e 15 dias depois de derrotar o movimento independente nas urnas.