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Corta-relvas: Cristas à espera da onda

Se há milhares de árvores tombadas, estradas cortadas e um Verão aí à porta, o que se segue?

João Pombeiro, Jornalista e editor-executivo da revista LER pombeiro@gmail.com

Está uma pessoa a escrever umas linhas sobre o milagre da multiplicação de clubes de futebol em Leiria (no caso concreto, a “duplicação” da União Desportiva), e umas linhas bem adiantadas (pelas contas do Word, já com 1800 caracteres), quando, culpa de quem anda sempre à espreita das últimas notícias, tropeça no título “Milhares de árvores continuam caídas no Pinhal de Leiria após temporal de Janeiro”. Notícia fresca da agência Lusa; fresca de segunda-feira, dia 22 de Março, lida às 15h55. O dia não estava perfeito para mudar de tema à última hora, mas, como sabem os dois leitores obrigatórios desta coluna, quando há árvores no caminho, eu desvio-me. E desviei-me. Resultado? Mudei de tema.

A notícia, recordemos: “Milhares de árvores continuam caídas no Pinhal de Leiria após temporal de Janeiro”. Resumindo, baralhando e dando de novo: mais de cem mil árvores “tombadas” na Mata Nacional, qualquer coisa como 2,5 quilómetros de estradas, arrifes e aceiros “obstruídos só na zona de São Pedro de Moel, o que constitui”, nas palavras de Álvaro Pereira, presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, “um barril de pólvora para a época dos incêndios”. O argumento parece-me óbvio, o retrato fidedigno (tenho passado vários fins-de-semana em São Pedro) e todos os meios de denúncia política justificados – farto de esperar, o autarca fez uma visita ao pulmão verde do distrito na companhia de João Paulo Pedrosa e Odete João, deputados socialistas eleitos por Leiria. Óbvio e justificado é também exigir ao Governo a utilização do Fundo de Intervenção Florestal, garantir que a autarquia disponibiliza todos os recursos possíveis, e repetir aos ouvidos do secretário de Estado das Florestas que, ao contrário do que parece dizer, a retirada destes milhares de árvores é uma “prioridade”. Fica-me uma dúvida, que vai direitinha para Assunção Cristas, ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, eleita por mero acaso pelo círculo de Leiria: se há milhares de árvores tombadas, estradas cortadas e um Verão aí à porta, o que se segue? Pense bem, dou-lhe uns segundos. [Uns segundos] Fósforo, claro, acertou. E, dra. Cristas, em relação à sua outra pergunta, a resposta é não – as ondas do mar de São Pedro ainda não apagam incêndios. Era bom, não era?

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado a 24 de abril de 2013)