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Corta-relvas: O clube duplicado

Quando um clube estoira com milhões de euros de dívidas (…), com um atentado urbanístico às moscas e com uma caderneta cheia de episódios hilariantes (…), o que resta?

João Pombeiro, jornalista e editor-executivo da revista LER pombeiro@gmail.com

Jornalista que é jornalista precisa de dar cavaco aos leitores. Não sou excepção, mas fujo à regra que veio direitinha de Belém: evocar o nome de Nossa Senhora de Fátima em vão. Evoco, sim, outro nome, o de João Bartolomeu, que está longe de ser um santo mas conseguiu – a poucos quilómetros de Fátima – o milagre da duplicação de clubes. Sejamos sérios: o antigo presidente da União Desportiva de Leiria (e respectiva SAD) alcançou outros feitos extraordinários na própria baliza, alguns com julgamento marcado em tribunal, outros no limbo do “alegadamente”. No entanto, o empresário e “dirigente desportivo” ficará para a abençoada história do futebol português por ser o autor do milagre acima apregoado (isto se não considerarmos a contratação de José Mourinho, há mais de uma década, uma jogada do divino). Quando um clube estoira com milhões de euros de dívidas (a treinadores, jogadores e demais fornecedores), com um atentado urbanístico às moscas e com uma caderneta cheia de episódios hilariantes (adjectivemos assim), o que resta? Plural, senhores, plural. Restam dois clubes: é o milagre da duplicação simples. São Bartolomeu, não duvide, são dois clubes, sim.

Por isso, com ou sem apito, escutem meus caros três leitores: deixemos o passado para os tribunais e agradeçamos a João Bartolomeu pelo presente e pelo futuro, o mesmo é dizer pela glória de a cada fim-de-semana podermos festejar vitórias em dose dupla. Mais, pensem bem: poucas são as cidades no mundo que têm a oportunidade de celebrar dois campeonatos conquistados em simultâneo pelos seus clubes. Não foi este ano, é certo, mas paciência é virtude dos leirienses. A época 2012/2013 acaba agora com saldos: a União Desportiva de Leiria, na verdade, fez a sua parte, vencendo o campeonato distrital da I divisão, após uma vitória sobre a Moita do Boi; a União de Leiria SAD terminou nos primeiros lugares da II divisão nacional (zona sul), com pagamentos de prémios em atraso e ameaças de greve.

Em 2014, por esta altura, talvez os melhores resultados do milagre da duplicação possam manifestar-se em todo o seu esplendor – e à flor da relva. Quem quer, Bartolomeu sonha, os clubes nascem. E a romaria a Fátima terá uma nova paragem em Leiria: o estádio arco-íris, com castelo ao fundo. O betão armado do Taveira como altar de um milagre de Bartolomeu. Alguém arranja final melhor?

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado a 23 de maio de 2013)