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Crónica irregular: O Bicho-Papão

Alexandra-seco
Alexandra Seco, Professora do Departamento de Matemática da ESTG – IPLeiria

Frequentemente, quando um aluno questiona determinado passo de cálculo matemático há um colega que responde “é uma regra”. E aí toda a turma suspira de alívio – a coisa está dominada, basta decorar a regra.

Há a regra do corta, do tapa, da portagem, do feijão, da salsicha, do miolo com miolo, etc. Fico muitas vezes com a sensação que pensam que no passado um matemático qualquer resolveu inventar regras. E, assim que se domina uma, o tal matemático, inventa outra “regra”, até a matemática ser uma série de regras que mais parecem um monstro. E quando um professor afirma que não há regras, apenas raciocínios lógicos, os alunos entram em pânico, pois aquele não quer seguir “as regras”, não pode ser bom. O professor, perante os olhares reprovadores, logo se submete às regras, apressando-se a inventar mais algumas com a matéria nova. E o monstro cresce. O aluno, cioso do seu dever, decora-as todas e surge confiante no teste. Mas, rapidamente a memória prega-lhe uma partida e ele usa o pão quando devia ter usado a salsicha, acabando por desanimar e desistir.

Um conselho: nunca decorem regras que não entendem. Todas as regras referidas dizem respeito apenas às quatro operações básicas que aprendemos na primária e isso não é nenhum bicho-papão, pois não?

(texto publicado na edição de 17 de outubro de 2013)