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Crónica Irregular: O Vendedor de Passados

Agualusa é um romancista, nascido em Angola e de formação portuguesa, com uma obra notável.

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António Sequeira, administrador da Caixa de Crédito de Leiria antoniosequeira1@zonmail.pt

Agualusa é um romancista, nascido em Angola e de formação portuguesa, com uma obra notável.

Um dos seus romances tem o estranho título de “O Vendedor de passados”  sátira divertida e  contundente à emergente classe burguesa angolana.

Gente que soube obter riqueza bastante para precaver o seu futuro, mas a quem faz falta, ou pelo menos dá jeito, poder invocar um passado para justificar o presente.

Um fulano atento à realidade, abraça a estranha profissão de vendedor de passados e desde uma árvore genealógica, a fotos de distintos avós e até a um jazigo de família no cemitério, tudo se arranja à medida do cliente.

Com a leitura da deliciosa prosa de Agualusa, ocorreu-me como seria útil, aqui e agora, haver um vendedor análogo, mas que vendesse futuros e não passados.

O nosso passado foi preparar o futuro e agora fomos  esbulhados daquilo, que  entregámos à guarda de um depositário, que apesar de eleito democraticamente,  se tem mostrado de más contas.

Democracia não rima com  miséria, não rima com desemprego vitalício a meio da vida ativa, não rima com a perda de confiança na entidade que por definição é pessoa de bem, o  Estado.

Ninguém resiste à perda total de esperança no amanhã, porque esse sentimento é a essência da própria vida.

Só seria suportável, se alguém vendesse futuros!

(texto publicado na edição de 6 de fevereiro de 2014)