Agualusa é um romancista, nascido em Angola e de formação portuguesa, com uma obra notável.
Um dos seus romances tem o estranho título de “O Vendedor de passados” sátira divertida e contundente à emergente classe burguesa angolana.
Gente que soube obter riqueza bastante para precaver o seu futuro, mas a quem faz falta, ou pelo menos dá jeito, poder invocar um passado para justificar o presente.
Um fulano atento à realidade, abraça a estranha profissão de vendedor de passados e desde uma árvore genealógica, a fotos de distintos avós e até a um jazigo de família no cemitério, tudo se arranja à medida do cliente.
Com a leitura da deliciosa prosa de Agualusa, ocorreu-me como seria útil, aqui e agora, haver um vendedor análogo, mas que vendesse futuros e não passados.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>O nosso passado foi preparar o futuro e agora fomos esbulhados daquilo, que entregámos à guarda de um depositário, que apesar de eleito democraticamente, se tem mostrado de más contas.
Democracia não rima com miséria, não rima com desemprego vitalício a meio da vida ativa, não rima com a perda de confiança na entidade que por definição é pessoa de bem, o Estado.
Ninguém resiste à perda total de esperança no amanhã, porque esse sentimento é a essência da própria vida.
Só seria suportável, se alguém vendesse futuros!
(texto publicado na edição de 6 de fevereiro de 2014)