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Crónica irregular: Portugal, menos mal!

Um dia uma banda galega, os “Siniestro Total”, estava num hostel em Sevilha a ver um jogo de futebol, um Porto-Madrid.

Dora Matos, jornalista dorahenriquesmatos@gmail.com

Um dia uma banda galega, os “Siniestro Total”, estava num hostel em Sevilha a ver um jogo de futebol, um Porto-Madrid. Nisto, surge um golo do Porto que a banda festeja. O camareiro, indignado, diz-lhes que não devem festejar o golo do Porto porque são espanhóis. Então, alguém da banda explica-lhe que o Porto está mais perto da sua cidade natal, que é Vigo.

Os galegos são vistos – normalmente – como os “quase portugueses”, os “que falam um espanhol estranho que é quase o luso”. Não é por acaso que, nalgumas terras galegas por onde passo, as placas tenham correções a marcador negro a indicar um sentimento lusista (ex. A Corunha, em vez de La Coruña). Serve de mote para explicar a relação que têm com o nosso país, ou pelo menos, explicar como se identificam connosco. Um galego para chegar a Madrid não demora menos de cinco horas e ao Porto demora pouco mais de uma hora. E na estrada da crise que temos percorrido juntos, há quem diga “se vês a barba do teu vizinho a arder, põe a tua de molho!”, uma proposição do cenário que vive Portugal atualmente e uma realidade que os galegos veem muito perto, “pelo menos Portugal tem uma música que canta a revolução, a Grândola, nós aqui não temos nenhuma”, disse-me um dia um galego. Como dizia a banda, o que também revela o sentimento de muitos galegos, “menos mal que nos resta Portugal”.

(texto publicado a 23 de maio de 2013)