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Crónica irregular: Rotura

De força debotada derrapo na insónia, no estilhaçado tédio de adjectivos que teces para adornares a repulsa.

Irene-gomes
Irene Gomes, artista Plástica irene.goms@gmail.com

De força debotada derrapo na insónia, no estilhaçado tédio de adjectivos que teces para adornares a repulsa.

Vazio da tua sem-razão, insultas o que não sabes respeitar, despovoas dias não nomeados para habitares a secura. Silêncio que o ninguém da vida contigo arrasta.

Lembras-te de mim, tentas entrar pelas frinchas do ódio para polires agressão nas traves do insulto. Fechas ao círculo a palavra quando o ponto é tangencial. Separas leitos.

Perdes definição no esfuminho, na névoa equivocada da figura. No medo. Pensas que mudas de forma, mas és só mais um quadrado desenhado com dedo de chuva.

Irrelevante.

Por vezes sorris, afagas-me o cabelo. O sorriso está morto. Os afagos são o lapso do instante.

Lavas os dentes enquanto portas batem para que a pureza do teu gesto manche culpas que me galopem na imagem mulher.

Queres que me odeie, eu corro para um comprimido. Não queres ser o único recluso nesse inóspito glaciar.

Seco cor ao sangue, a noite são gritos de seringas, esperas. Corvos retirando-me os olhos que te lêem.

Parti.

Estou longe, nas costas da palavra. No modulado da tela. Na seiva cor.

As fotografias do destino desenhadas a duas mãos exalam agora rostos magoados dissipam-se no seppia dos dias. Nas imagens feridas tudo sangra. Dói.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 27 de fevereiro de 2014)