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Partilhando: A persistência da memória

Quantas vezes nos apaixonamos e julgamos ser para sempre, num dado instante, mas a seguir já não o é?

Cristina Barros, professora do IPL e presidente da Incubadora D. Dinis cristinabarros.rl@gmail.com

Fazendo uma análise retrospetiva da nossa vida, com certeza que persistem na memória emoções que nos marcaram, que contam a nossa história, que nos caracterizam e nos transportam para o futuro que é hoje.

Nesta data celebra-se o Dia dos Namorados e, apesar de se ter tornado numa efeméride de carácter mais comercial do que afetivo, por momentos fecho os olhos e relembro experiências vividas. Contextualizo as minhas memórias no tempo, no espaço e evito as palavras “sempre” ou “nunca” dada a sua intemporalidade e utopia.

Quantas vezes nos apaixonamos e julgamos ser para sempre, num dado instante, mas a seguir já não o é? Provavelmente, nestas situações renascemos, reafirmamos a nossa presença e reaprendemos a amar.

Por outro lado, temos a certeza que há emoções que são eternas e ultrapassam toda a dimensão espacial e temporal porque, como dizia Horace Walpole, “A vida é uma comédia para aqueles que pensam e uma tragédia para aqueles que sentem.”

E um pouco como todos nós, que pretendemos persistir nas recordações de quem estimamos, também os artistas procuram criar uma imagem duradoura nos seus interlocutores. Entre aqueles que se dedicaram à memória, é reconhecido o trabalho de Salvador Dalí, que descreve com originalidade extrema o surrealismo e subjetividade do tempo no seu quadro “A Persistência da Memória”. Já o escultor Richard Sierra, na emblemática obra “La Materia del Tiempo”, leva-nos a uma viagem pelo “Eu interior”, quando exploramos os seus monumentais labirintos em aço, que podem ser percorridos livremente e permitem a criação de uma noção de temporalidade pessoal, ao mesmo tempo que transmitem uma sensação de espaço em movimento, capaz de subsistir na memória, muito além do momento em que se contacta com a obra.

Como é que as nossas atitudes refletem o nosso “Eu interior” naqueles que amamos se, tal como afirma António Damásio, “são as emoções que nos fazem únicos, é o nosso comportamento emocional que nos diferencia uns dos outros”?

Até que ponto a nossa imagem persiste na memória daqueles que amamos e nos torna intemporais? Não será esta a nossa missão? Como poderemos fazê-lo? Que atitudes e ações teremos de adotar para sermos inesquecíveis?

Acredito que ao sermos fiéis à nossa essência e ao transpormos sem máscara o nosso “Eu interior” para o “Eu exterior” conseguiremos certamente ser inesquecíveis.

(texto publicado a 14 de fevereiro de 2013)