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Elogio da cidade: Evocação pessoal do Prof. Costa Lobo

Conheci o Professor Costa Lobo em 2010, em circunstâncias singulares.

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João B. Serra, professor do Instituto Politécnico de Leiria serra.jb@gmail.com

Conheci o Professor Costa Lobo em 2010, em circunstâncias singulares. Ele, ou alguém a seu pedido, ligou para a Fundação Cidade de Guimarães mostrando o seu interesse em avistar-se com o responsável pela programação da Capital Europeia da Cultura. Aprazámos um encontro em Santa Maria da Feira, onde Costa Lobo, consultor da respetiva Câmara Municipal para a área do urbanismo, tinha um gabinete. Ao fim de uma tarde quente encon­trei-me pela primeira vez com aquele homem de aparência frágil, delicado, comunicativo, visionário, características que retive logo desse primeiro contacto.

Outros encontros se seguiram. Recordo particularmente um, nas instalações da Universidade Católica do Porto, no qual o Professor Costa Lobo me expôs longamente o seu plano de uma obra que estava a congeminar e que gostaria de dedicar a Guimarães.

Esse trabalho, provavelmente o último que realizou, e que espero em breve ter a honra de editar, resume a experiência e a reflexão de um urbanista que tinha uma visão da história cultural da Europa e de Portugal e que acreditava que os países do sul, designadamente os países mediterrâneos, tinham dado corpo a princípios civilizacionais distintos dos do Norte.

Crítico, aliás crítico feroz, da teses que postulavam a existência de uma área Metropolitana do Porto, Costa Lobo contrapunha aos próceres desta figura uma outra, a de um hexágono de cidades dispostas ao longo de três rios, todas com elementos comuns e elementos complementares. Para o estudioso e apaixonado da vida das cidades, insistir neste hexágono era prestar homenagem ao principio fundador da história de Portugal e às determinantes e linhas de força que o tinham levado ao Oriente.

Costa Lobo era um homem do mundo, pelo qual viajava incessantemente. Em 2010 tinha sido consultor de Istambul no respeitante a planos urbanísticos lançados a propósito do facto de a Comissão Europeia ter atribuído nesse ano a esta cidade turca o estatuto excecional de terceira Capital Europeia da Cultura. Creio que foi essa experiência que aproximou o urbanista de Guimarães e esteve na origem da sua reflexão original sobre o lugar desta cidade na história cultural do Ocidente.

Enderecei-lhe um convite para a cerimónia de abertura da Capital Europeia da Cultura em 21 de janeiro de 2012, que de imediato aceitou. Fez então questão de me fazer entregar uma lembrança de simpatia: um prato de louça de Coimbra, sua terra natal.

Manuel Leal da Costa Lobo, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico faleceu, com 84 anos, no passado dia 21 de maio.

(texto publicado na edição de 22 de agosto de 2013)