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Elogio da cidade: Métrica pedestre

Muitas cidades europeias – e portuguesas – adotaram medidas que recuperam a prática do andar a pé. Favorecem a deslocação pedestre, elaboram planos de mobilidade pedonal.

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João B. Serra, professor do Instituto Politécnico de Leiria serra.jb@gmail.com

A alta dos preços dos combustíveis conferiu acuidade aos problemas da mobilidade e ao planeamento das deslocações no interior da cidade. A cidade que construímos nos últimos 30 anos mostra-se cada vez mais dispendiosa e penalizadora do ambiente. O deficiente planeamento das implantações dos serviços e dos sistemas de transportes e comunicações sobe agora o valor da fatura do efeito de estufa e dos custos energéticos.

Muitas cidades europeias – e portuguesas – adotaram medidas que recuperam a prática do andar a pé. Favorecem a deslocação pedestre, elaboram planos de mobilidade pedonal. Procuram garantir que os percursos para peões sejam seguros, conviviais e atrativos. Em nome da saúde, mas também da qualidade de vida e da reanimação do espaço público.

Num texto intitulado “cidade pedestre, cidade rápida”, o geógrafo Jacques Levy propõe um método de análise urbana dos modos de gestão da distância centrada no peão. Denomina essa metodologia de “métrica pedestre”. Mede os percursos dos peões em espaços públicos, em espaços semipúblicos ou de acesso condicionado, e em espaços privados. A aplicação da métrica pedestre permite-lhe operar uma classificação de cidades e bairros. A verificação de bons resultados na métrica pedestre equivale a desenvolvimento urbano.

É preciso perceber que os indicadores clássicos da mobilidade urbana – velocidade média da deslocação – são hoje de pouca utilidade. Interessa medir a eficácia relativa da deslocação, que depende mais do objetivo que se pode atingir do que do número de quilómetros percorridos.

Se a qualidade urbana – a urbanidade – depende cada vez mais dessa eficácia, traduzida em modelo de gestão da distância, o que se verifica é que em certas cidades ou em certas áreas das cidades o automóvel não é eficaz.

O automóvel é um grande consumidor de superfícies, por esse facto aumentando as distâncias em vez de as diminuir. De modo que, nas áreas urbanas densas e diversificadas, a métrica pedestre é mais rápida que a métrica do transporte em automóvel particular.

(texto publicado na edição de 14 de novembro de 2013)