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Identidade e território: Os meninos à volta do iPad

Nos meus tempos de miúdo, uma das minhas actividades preferidas era a de subir às árvores, nomeadamente pinheiros e carvalhos.

João Forte, geógrafo físico jfortegeo@sapo.pt

Nos meus tempos de miúdo, uma das minhas actividades preferidas era a de subir às árvores, nomeadamente pinheiros e carvalhos. E não, não era algo absurdo de se fazer, pois afinal era uma brilhante aula ao ar livre. Para chegar até à árvore, tinha de passar por todo aquele mato, aprendendo que espécies eram aquelas. Às vezes picava-me, mas isso fazia parte do processo. Conseguia, por vezes, vislumbrar algumas aves que faziam ali os seus ninhos, ouvindo sons extraordinários. Chegado ao pinheiro escolhido, começava a trepar pelos ramos mais grossos, ficando sujo de resina. Já lá em cima, tinha uma perspectiva bem diferenciada daquilo a que estava habituado. Paisagem, aves a voar e tinha a noção do espaço no qual estava embrenhado. Tinha cuidado ao descer, compreendendo a real noção de perigo, algo que me poupou sempre a quedas indesejáveis. Subir os carvalhos era mais fácil, embora igualmente interessante. Ver aquele musgo e os pequenos animais que pupulavam por ali era uma experiência brutal. Quando chegava ao chão tinha já as mãos e as calças sujas, cheias de micróbios e bactérias amigas. Como podem ver, estas actividades não eram nada inocentes, eram sim fundamentais para a construção do “eu” e para a percepção do território. Os miúdos de antigamente esqueceram isto mesmo, relegando os, agora, seus filhos para mundos virtuais e isolados.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado a 16 de maio de 2013)