Muitos de vós não me conhecem: sou pombalense, matemático e fui vosso adversário nas últimas legislativas (nas listas da CDU). Com o vosso governo a minha geração chegou ao poder. Não sei se por isso, se por ter amigos pessoais no executivo, o que é certo é que acreditei no seu discurso moralista. Sou ingénuo? É verdade. Sendo visceralmente de esquerda, tinha todos os anticorpos que me poderiam tornar imune à demagogia laranja.
A promessa de uma nova geração de políticos, sérios e competentes, capazes de transformar os preguiçosos portugueses em cidadãos empreendedores e dinâmicos, capitalizou muitos votos. Mas sacralizar o empreendedorismo e diabolizar o serviço público é injusto e perigoso. O “não-assunto” Relvas/Lusófona mostrou claramente a debilidade desse argumento e pôs a nu as fragilidades da nossa democracia, onde empreendedorismo e clientelismo vivem paredes-meias. A teia de interesses revelada matou, de uma vez só, o prestígio da universidade e do governo. Os atuais alunos da instituição têm agora o seu futuro comprometido; os restantes cidadãos coram de vergonha por se verem representados por um Dantas.
Não tenho nada para vos oferecer, mas gostaria de vos desafiar: em vez de encharcarem o Twitter e Facebook com a mais insignificante das vossas atividades, demarquem-se frontalmente desta indignidade.
(texto publicado na edição em papel de 20 de julho de 2012)
