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Margem esquerda: Quantidade ou qualidade?

Já não tenho paciência para economistas e cada vez gosto mais de ouvir os historiadores. Enquanto os primeiros tendem a ficar-se pela espuma dos dias, a opinião dos segundos é, quase sempre, mais alicerçada e consistente.

Adérito Araújo, professor universitário aderito.araujo@gmail.com

Já não tenho paciência para economistas e cada vez gosto mais de ouvir os historiadores. Enquanto os primeiros tendem a ficar-se pela espuma dos dias, a opinião dos segundos é, quase sempre, mais alicerçada e consistente.

Vem isto a propósito da actual discussão sobre a reforma da Administração Local. Segundo alguns iluminados, temos que fazer desaparecer, até Junho deste ano, 1800 das nossas actuais 4259 freguesias. Há freguesias a mais, dizem-nos. Mas este argumento baseia-se em algum estudo sério? Nada! Apenas na assinatura do memorando com a troika. E assim, sem mais nem menos, com a mesma dose de populismo com que há uns anos os mesmos defenderam a criação de muitos municípios e freguesias, pretende-se hoje fazer tabula rasa de uma cultura secular, profundamente enraizada no país.

A discussão sobre o ordenamento do território é útil e até aceito que os argumentos economicistas a possam balizar. O que não aceito são os ultimatos que os tecnocratas que nos governam têm feito à população: decidam-se rapidamente a fazer como queremos porque, caso contrário, é bem pior.

O país mudou muito e o papel das freguesias deve ser discutido. Mas mais do que apontar baterias para a sua destruição, há que requalificar as suas competências. Se queremos um país viável, temos que pôr de lado as questões da quantidade e centrar a discussão na qualidade.

(texto publicado na edição em papel de 24 de fevereiro de 2012)