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O meu diário: Férias

Estou no Algarve a banhos como é costume. A tradição continua a ser o que era. E como sempre, o estudo sociológico continua quer na praia, quer nas inúmeras filas, esperas e demoras que tenho de aturar sem capacidade de reclamar.

hml.vasconcelos@gmail.com

Estou no Algarve a banhos como é costume. A tradição continua a ser o que era. E como sempre, o estudo sociológico continua quer na praia, quer nas inúmeras filas, esperas e demoras que tenho de aturar sem capacidade de reclamar. Espero por lugar no restaurante 45 minutos, que lamentamos, mas não fazemos reservas entre 15 de julho e 31 de agosto. Os que fazem reservas levam 40 minutos a começar a servir as entradas e 1h20 até ao prato principal. A cardiologia do Centro Hospitalar de Leiria tem tempos muito melhores para desentupir as coronárias desde que o cliente chega.

Depois a ida ao supermercado em horas críticas é um verdadeiro filme daqueles do Manoel de Oliveira, lento e pausado, o melhor é ir diretamente para a caixa ganhar vez para pagar, enquanto um ajudante vai recolhendo as compras. Há fila para o café, para registar o Euromilhões, fila para sair da praia e fila para entrar na discoteca. Chego a pensar que isto nas ferias é vingança divina pela demora e espera que os meus doentes aturam. Por outro lado, não acredito nessa justiça imediata caso contrário o Trump estaria estorricado com o aquecimento global, o Putin preso durante 12 horas numa câmara frigorífica e o Nicolas Maduro teria ido de férias para Miami.

E o mais grave é que depois de regressar do supermercado e chegar a casa constatamos que acabou o papel higiénico, que não há sacos do lixo e que o último garrafão de água foi consumido em menos de duas horas.

Outra coisa notória é o fosso entre os ricos e os pobres que parece que na altura de Verão se acentua ainda mais. Deve ser por causa dos carros que os ricos tiram das garagens para os exibir ou porque os pobres continuam carregados de objetos auxiliares, tipo guarda-sol e lancheira, que os ajudam a sobreviver, sem gastar dinheiro extra, a um dia intenso de praia. Os ricos fazem um esforço por consumir comida saudável enquanto os pobres, quando comem fora, optam pela comida menos saudável. No consumo de álcool é que se assemelham muito, embora com gins e champagnes nos ricos e minis e vinhaça nos pobres.

Mas as férias têm o seu quê de cansativo e várias vezes no dia fico a achar que estaria melhor a trabalhar. Viva o Algarve, viva o lazer.

(Artigo publicado na edição de 9 de agosto de 2018)