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Partilhando: A Função de Perda

Um dos quadros que mais me impressionou e que tive oportunidade de ver no Museu Nacional de Oslo é “O Grito” do pintor Edvard Munch, de 1893.

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Cristina Barros, professora do IPLeiria e presidente da Incubadora D. Dinis cristinabarros.rl@gmail.com

Por força da profissão e pela minha paixão por arte, tenho por hábito fazer analogias entre conceitos matemáticos usados na engenharia, obras de arte e as nossas atitudes do dia-a-dia. Nesta crónica partilho convosco uma dessas analogias, entre a função de perda proposta pelo japonês Genichi Taguchi, conceituado investigador na área do controlo da qualidade, o quadro “O Grito” e a onda de impacto que as nossas atitudes provocam nos outros, mesmo naqueles que não conhecemos.

Taguchi, através da sua função L(y)= k(y-T)2, demonstrou que existe sempre uma perda (L, “Loss” em inlgês) imposta à sociedade quando uma das características críticas (y) de um dado produto ou serviço se desvia do seu valor alvo (T). Para minimizar o seu impacto é necessário reduzir a variabilidade em todas as fases do processo de produção.

Considerando a variável (y) como o resultado das nossas atitudes e se avaliarmos a perda que impomos aos outros quando certas ações ou palavras mágicas como “por favor”, “obrigada”, “desculpa”, “lamento” ou “amo-te” não são ditas na hora certa ou simplesmente ficaram por dizer, certamente que existe uma perda e ela será muito maior do que alguma vez imaginámos. Só que não a queremos ver pois vivemos escondidos no nosso mundo.

Um dos quadros que mais me impressionou e que tive oportunidade de ver no Museu Nacional de Oslo é “O Grito” do pintor Edvard Munch, de 1893, no qual o artista pretende retratar, através da pintura, ideias, revoltas, “gritos”. Nesta obra, a onda sonora emitida pelo grito da figura humana, de estado precário, representada no quadro, consegue ter impacto em todos os elementos naturais que estão à sua volta, como o céu e o mar, mas não produz qualquer efeito nos elementos inanimados, como a ponte de betão, e nas duas pessoas que estão no canto esquerdo do quadro, os supostos amigos, que são indiferentes ao grito. O artista revela assim a revolta contra a indiferença e evidencia que a vida não é como as outras pessoas nos veem, que existe uma diferença entre o “Eu interior” e o “Eu exterior”.

Imaginem agora substituir a variável “y” por “A” de Amor e Amizade, que dissemos as tais palavras mágicas e partilhamos o nosso grito, que onda de impacto geramos?

De certeza que invertemos a função de perda e recebemos de volta o tal “sorriso”. Aquele que funciona como força motriz dos nossos sonhos e dos vossos.

(texto publicado na edição de 17 de abril de 2014)