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Partilhando: “Tenho saudades…”

Não tenho vergonha de sofrer de saudades, porque é bom, é muito bom. É sinal que existe um “nós” à minha volta, um mundo onde verdadeiramente quero estar, absolutamente precioso e maravilhoso.

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Cristina Barros, professora do IPLeiria e presidente da Incubadora D. Dinis cristinabarros.rl@gmail.com

Há bem pouco tempo, a minha filha do meio de apenas seis anos disse-me: “mamã tenho muitas saudades tuas e de toda a gente”.

O “toda a gente” para ela é uma definição maravilhosa de família e amigos que frequentam a nossa casa e nos quais ela confia. São os avós, os bisavôs, os tios, os primos e uns grandes amigos que são como família. Este é o “grupo da saudade” da nossa princesa mais nova, que tanto tem de rebelde e marota como de doce e brincalhona, e que a todos faz rir com a sua contagiante gargalhada.

Eu, e certamente todos nós, sofremos do mesmo mal desta menina de apenas seis anos, de saudades. Apesar de ser um sentimento nostálgico, para mim, é um “sentimento muito bom”, que existe quando gosto verdadeiramente de alguém e esse alguém me faz muita falta. Dizem que é muito português. Eu diria que é mundial. Todos o sentimos, cada um à sua maneira.

Nos últimos tempos têm sido frequentes as viagens de trabalho e gerir a saudade, mesmo que seja por alguns dias, é sempre uma tortura, principalmente por causa dos meus três filhos, tendo o mais novo apenas um aninho. Começo, umas semanas antes de partir, com um processo de mentalização das garotas, contando tudo o que vou fazer e de que falaremos todos os dias pela internet. Só que nada substitui o calor de um abraço, a doçura de um beijo e o prazer de estarmos simplesmente lado a lado a rir, a “deitar conversa fora”, às vezes sem nexo, e a brincar. Já sei que, ao fim de uns dias, as saudades são tão corrosivas que começam as birras por falta de “mãe” e eu a sonhar com os meus filhos.

Tento não pensar na “saudade”, só que “ela” está sempre ali. A qualquer altura aparece e dou por mim a imaginar que estou com o meu príncipe ao colo, a encher de beijos as garotas e a partilhar as fotos que tenho de “toda a gente”, com as pessoas que me acompanham.

Não tenho vergonha de sofrer de saudades, porque é bom, é muito bom. É sinal que existe um “nós” à minha volta, um mundo onde verdadeiramente quero estar, absolutamente precioso e maravilhoso.

Foi delicioso quando recentemente, no regresso de uma viagem, li no telemóvel uma mensagem de uma grande amiga que dizia: “Tenho mesmo saudades tuas. Amanhã dou-te um mega abraço.” Eu também tinha muitas saudades.

Também eu, tal como a menina de seis anos, tenho saudades…de toda a gente.

(texto publicado na edição de 15 de maio de 2014)