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Identidade e território: Vale Carril

No Vale Carril o tempo passa devagar, o que é bom.

João Forte, geógrafo físico jfortegeo@sapo.pt

Topónimo curioso, o qual serve de mote para um breve exercício de estímulo geográfico. Onde é? Calma! Carril lembra-me comboio, embora no Vale Carril não haja sequer via férrea. Há 13 anos atrás, li algo vindo de um dos grandes da geografia, o qual dizia que o comboio era um aspirador de paisagens.

O tempo passou, mas a expressão ficou. Não faz sentido à primeira vista, mas lembro que a paciência é uma virtude, muito embora esta não seja valorizada como devia.

No Vale Carril o tempo passa devagar, o que é bom. Vivemos num mundo onde andamos demasiadas vezes descolados do nosso território, numa supérflua horizontalidade potenciada pelo carro, comboio e outros mais.

Perde-se o hábito de andar a pé e de bicicleta, o que se traduz num efectivo descolar de um território valioso, com tudo o que isso pode significar.

Perde-se a noção de “coisas” que, sendo básicas, são fundamentais para uma vivência racional e feliz.

Falta a verticalidade permitida por algo tão simples como andar a pé em locais longe do betão. Subir às colinas, descer aos vales e andar pela várzea é como ler um livro, mas dos bons. E mesmo assim, encontram-se coisas que nem nos livros constam.

Querem saber então onde é? Consultando a carta militar de Portugal, Folha nº 275 (Ansião), saberão. E não, no Google não aparece. Se encontrarem, digam-me como foi esse desafio!

(texto publicado a 21 de fevereiro de 2013)