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Cultura

Bajouca: Aqui o barro ainda ganha forma de arte com o saber de antigamente

A poucos quilómetros de Leiria há um núcleo valioso de oleiros que resiste. Já foram dezenas, agora são cinco e estão de portas abertas para mostrar um dos tesouros tradicionais da região.

Barro na Bajouca

A olaria é a alma da Bajouca mas nesta manhã quente de julho as conversas no café central giram em torno da pandemia e do vermelho que sinaliza as passadeiras da renovada estrada que atravessa a aldeia. “Deviam era gastar o dinheiro onde faz falta o alcatrão”, desabafa alguém. Fora do Kate-Kero, perto do recinto onde se realiza a Feira dos 13, ainda cheira a tinta fresca. Ali a Bajouca está de “cara lavada” mas a verdadeira atração desta freguesia do concelho de Leiria é bem menos imaculada – ou não estivesse o barro e a argila intimamente ligados à sua história.

A terra já teve dezenas de olarias em funcionamento. Foi dos mais importantes núcleos de produção do país. Hoje ainda é destaque na zona centro e uma visita à Bajouca vale muito pela oportunidade de espreitar a magia de dar forma ao barro.

A terra também é conhecida pela música, sobretudo da família Jerónimo. Convidámos um dos elementos, Gil, para guia informal. “A Bajouca é um sítio calmo, uma aldeia onde ainda se vê tradições antigas, da agricultura”, diz-nos. Um passeio rápido pela vila confirma-o: a dois passos do centro há milho crescido, muitos campos de hortícolas e galos a cantar à desgarrada com a buzina da carrinha do peixe. As casas antigas escondem-se face a construções mais modernas, onde até pontificam colunas gregas ou paredes verde alface.

Jardins do confinamento

À entrada da Bajouca está um destino obrigatório para Gil Jerónimo: o parque do Pisão, ótimo para grupos de amigos ou visitas em família, com vários percursos pela natureza. “É um sítio calmo onde dá para estar e molhar os pés”. Para piqueniques convém ir cedo para reservar mesa, avisa.

O Parque de Merendas do Pisão tem mesas para piqueniques, muita sombra e percursos pela natureza

Perto da casa dos Jerónimos, nos Andrezes, está a Olaria Silva. A tradição vem, pelo menos, desde os bisavós de Rui, atual responsável. É uma das cinco oficinas de porta aberta ao público, com venda e produção ao vivo. “Já foram uns 80 e ainda conheci muita gente a fazer, mas a emigração levou muitos embora”.

Rui Silva recebe-nos com simpatia, feliz por voltar a trabalhar após o fecho imposto pela pandemia. Ao fundo, o pai, Manuel, trabalha na roda de oleiro. “O futuro não é fácil, porque ninguém quer formar-se oleiro”, lamenta Rui, temendo o fim da tradição familiar. Mas este momento é de reagir. “Já começaram a aparecer turistas, mas nada como antes”. Estrangeiros nem vê-los e o verão era habitualmente deles. “Todos os dias tinha pessoal aí”. Para compensar, os clientes portugueses são mais. “Agora fazemos mais peças para jardim, vasos, taças, jarras… Com o confinamento, as pessoas começaram a olhar mais para os jardins e as plantas”.

A conversa flui e chega até à origem da tradição oleira da Bajouca: ali sempre houve e ainda há barreiros: no Loural tira-se barro rosado; nas zonas de Matas e Marinha do Engenho, um mais vermelho. Mas o que se trabalha hoje vem sobretudo de fora. “É muito giro extrair artesanalmente, mas é caro”. Rui usa barro local para fazer peças únicas. Dessas mais artísticas ou de loiça utilitária, há na Bajouca muito para descobrir e surpreender quem a visita.

A visitar

Parque de Merendas do Pisão
Sombra não falta no parque de merendas da Bajouca, atravessado pela Ribeira da Bajouca. Há imensas mesas para piqueniques, muita sombra e várias instalações de apoio, como assadores, parque infantil e casas de banho

Moinho do Pisão
É uma das atrações do Parque de Merendas do Pisão: o moinho movido a água é uma tesouro da tradição e pontualmente abre a visitas orientadas por moleiro

Oleiros
Há cinco olarias ativas que podem ser visitadas: uma nos Andrezes, duas no Vale de Baixo, outra em Vale de Cima e uma outra em Bajouca de Cima

Percursos pedestres
Há dois percursos marcados na freguesia, no total de 15 km, permitindo descobrir as belas paisagens naturais e, até, as ruínas de um antigo forno de cal. Partem do Moinho do Pisão: o do lado esquerdo, para sul, oferece 8 quilómetros em zona de pinhal, com algumas subidas; do lado direito, para norte, percorrem-se zonas mais húmidas

Monumento ao oleiro
No centro da aldeia, uma instalação inaugurada em 1999, por Afonso Lemos Proença, homenageia a tradição local

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