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Cultura

É sexta-feira foge comigo: “O som”

Cantavam de manhã à noite, palavras pagãs, de mágoa, sonho, religião, do nascimento à morte inevitável, noivados e casamentos, a dureza do trabalho, cantigas de bem querer, escárnio e maldizer.

Cantavam de manhã à noite, palavras pagãs, de mágoa, sonho, religião, do nascimento à morte inevitável, noivados e casamentos, a dureza do trabalho, cantigas de bem querer, escárnio e maldizer.

Era preciso gravar, era necessário recolher o tesouro, antes que ele se perdesse afundado no tempo dos homens, cada vez menos unidos, cada vez mais sós com o mundo.

Um documento vivo com essa função intemporal, com faixas supostamente longas, mas longas em relação a quê?

Não era para fazer nenhum disco igual às modas da rádio da altura, com temas curtos e pomposos, nada disso, não era essa a função.

Da mesma maneira que ninguém lê um dicionário de enfiada, ali o que se mostrava era para ir degustando aos poucos, um pedaço de história, muitas das vezes amordaçada pelo isolamento, pela falta de comunicação, pelo desinteresse saloio da cultura de um povo, cuja espécie troca por vezes o orgulho pela vergonha.

De gravador na mão, Michel Giacometi galgou também um muro de timidez e mostrou a um povo que não era do seu sangue, que afinal era rico e generoso com ricas tradições originais.

O explorador por cá ficou, para sempre… quis ser enterrado no meio da terra, junto às raízes pulsantes, que ainda hoje testemunham essa ânsia de perpetuar o estado da alma.

texto, locução: Pedro Miguel
áudio: cantar alentejano (recolha por Michel Giacometti)
vídeo (youtube): Grupo Coral “Rurais”, Figueira de Cavaleiros
edição: Manuel Leiria

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