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Cultura

O Pinhal das Artes 2011: texto de Paulo Lameiro e vídeo

Durante cinco dias, o lugar das Árvores, em S. Pedro de Moel, tornou-se ainda mais especial. Tornou-se o Pinhal das Artes, a maior feira de artes para a primeira infância (0-5 anos) do mundo.

Durante cinco dias, o lugar das Árvores, no Pinhal do Rei, em S. Pedro de Moel, tornou-se ainda mais especial do que já é habitualmente. Tornou-se o Pinhal das Artes, o momento esperado por tantas famílias para pais, filhos e avós para experienciarem a natureza, as artes e os sentidos de maneira diferente do resto do ano. Foi a quinta edição da maior feira de artes para a primeira infância (0-5 anos) do mundo.

Veja aqui um vídeo sobre o evento e leia o texto do director artístico, Paulo Lameiro, sobre a edição do Pinhal das Artes 2011.

 

A Koi e a avó

O dia adormecia na Mata de São Pedro de Moel e ao longe o som das ondas do nosso Atlântico anunciava o regresso a casa. Na tenda de circo o Pinhal das Artes despedia-se das muitas centenas de crianças que o haviam experimentado desde os primeiros raios da manhã. Era hora de deixar o Pinhal de D. Dinis. “Adeus, voltaremos a estar juntos”, cantaram emocionados artistas, crianças, educadoras e muitas famílias. Na partilha final de tantas emoções algumas crianças recordam reis e barões das artes, instrumentos e fantoches, bailes e cantigas.

Mas uma avó iluminava a multidão com um sorriso tranquilo e largo. Tinha dois netinhos recém-nascidos nos braços de suas filhas que contemplava a seu lado. Pela manhã desse dia alguém a viu levar todo o seu ninho a uma tenda com canções de embalar. Enquanto uma das mamãs lhe solicitava uma fotografia para registar o momento mágico que viviam, ela esquecia-se da máquina que trazia nas mãos e os seus olhos transbordavam memórias de outros embalos.

Estrelas que se escutaram noite dentro, pássaros que se olharam ao raiar do sol com uma chávena de chá que aquecia todo o pinhal, cítaras que adormeceram bebés entre acácias viçosas, e mantas que adormeceram pais e mães cansados de tanto contemplarem seus filhos.

Almoços suculentos retemperaram energias de tanto caminhar por entre teatros e brincadeiras sonoras de água. Os esquilos espreitaram os rodeiros e ventoinhas de casca de eucalipto que pais construíram com seus filhos para brincar na mata. Algumas famílias optaram pelos calmos passeios de carroça, outras assistiram compulsivamente aos espectáculos de que mais gostavam. Plantaram-se alfaces, e recolheram-se sementes de pinheiro com coordenadas GPS para que D. Dinis possa ter seguidores no inverno que gosta de replantar o Pinhal de Leiria.

Todas estas memórias teimavam em inundar aquela avó, ali em frente dos presépios que suas filhas lhe ofereciam. E a máquina fotográfica continuava esquecida em suas mãos apesar de todos os sinais que lhe faziam chegar. Mas quando chegou a hora de cantar, não hesitou um segundo. “Dorme bebé, na tua caminha…” Perante o silêncio gerado em todo o público, de muitos bebés e papás, surpresa e comovida desabafou: “A minha mãe cantava muito para mim quando eu era pequena”.

Não havia passado muito tempo e no Facebook (privilegiados os bebés que têm avós com Facebook que ainda cantam canções de embalar) já escrevia: “Sou a avó que esteve no Pinhal das Artes e que se sentiu, mais uma vez a avó mais sortuda do mundo, não só por ter os netinhos que tenho, mas também porque me senti … nem sei descrever… é como se tivesse sido homenageada por não fazer mais do que todas as avós deviam fazer …. AMAR E DEIXAR TRANSPARECER ESSE AMOR … o que nem sempre é fácil. Comovi-me, passei um dia que espero repetir…”

Foi quando cantava a nossa avó que salta do aquário gigante uma carpa Koi. Quis também ela ser embalada pela doce voz que inundava o Pinhal, mas o salto, apesar de grande, não a fez chegar à tenda onde se cantava. Ficou duas horas fora de água, e só a genética de felicidade deste peixe e a voz aveludada da avó lhe permitiu sobreviver. As carpas Koi, tradicionais do Japão, irradiaram cor e movimentos especialmente belos no Pinhal das Artes deste ano.

Depois de passar por elas, até o Facebook se ressentia: “Descrevo o Pinhal das Artes com uma só palavra: SENSIBILIDADE! Adorámos! A paixão e a dedicação de todos sente-se em cada actividade! Sente-se em cada gesto, palavra, olhar todas as emoções que uma criança precisa para crescer feliz: AMOR, CARINHO E SONHOS! OBRIGADO! … Amei … Parabéns pela organização, pela dedicação e sem dúvida parabéns pela partilha… Adeus, voltaremos a estar juntos. Adeus, tu e eu mais uma vez. Adeus, está na hora de partir, vem comigo dá-me a mão, e quem sabe o que há-de vir!”

Adeus avó. A Koi voltou bem a casa, e já adormece as suas crias do lago com a canção que lhe ouviu no Pinhal das Artes. Também ela voltará em 2012.

Paulo Lameiro


Secção de comentários

  • Maria Antonia Meireles Gomes disse:

    Olá Paulo:
    Desconhecia-lhe esta faceta descritiva. Mais uma a juntar a tantas outras. Para mim, a descrição que fez foi idílica, embora eu confesse que nunca lá vi esquilos, mas de tudo o resto eu já tive a felicidade de ver e comprovar. Também sou avó, também me tenho deliciado desde a primeira hora que este evento desabrocou.
    Felicidades, pois merece bem a gratidão de todos os que se empenham e empenharam em dar o seu melhor a qem o quer receber.

    um abraço

  • Luisa Melo disse:

    Sou fã desta iniativa para as crianças….tem tudo o que precisam…contacto com a natureza, diversão e música. Parabéns Paulo Lameiro e parabéns a todos aqueles que trabalham e colaboram para que este fantástico "Pinhal" aconteça. Estão todos de Parabéns

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