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Cultura

Omnichord Records. O país precisa de ouvir o que está a acontecer em Leiria

Surgiu há um ano com “Quack!” e não tem parado de crescer. Hugo Ferreira e João Santos concretizam a paixão pela música na editora Omnichord Records, um projeto de e para Leiria.

Há um ano, Hugo Ferreira e João Santos concretizaram a sua paixão pela música num novo projeto. A Omnichord Records surgiu para apoiar os Nice Weather For Ducks mas tem crescido a olhos vistos. Uma aposta que quer dar a conhecer a Portugal as coisas boas que a música de Leiria tem para ver e ouvir.

Os dois fundadores da editora independente, que também agencia artistas, responderam às questões do REGIÃO DE LEIRIA, que pode ler aqui, na íntegra.

João Santos e Hugo Ferreira querem que ajudar a perceber que Leiria “é muito mais do que um sítio porreiro para comer no caminho de Lisboa para o Porto” (fotografia: Joaquim Dâmaso)

Como surgiu a Omnichord Records?
Da forma mais simples possível, por dois melómanos que sentem e vibram com o pulsar de Leiria. Um não-músico que tem anos de escuta e compra obsessiva de discos e gosta sobretudo de ouvir e de promover novos talentos e um músico e produtor que tem anos de guitarrista e adora captar, gravar e produzir o som dos instrumentos. Duas pessoas que se sentem extremamente bem em Leiria e têm a consciência de que a cidade e a região são normalmente afastadas de todos os centros de decisão e nunca fazem o suficiente para se mostrarem ou para se tentarem fazer ouvir. Começou com a necessidade que sentimos de gravar e promover uma banda que nos empolgou desde o primeiro minuto e que continua a dar passos seguros para mostrar que tem muito valor no meio musical, os Nice Weather For Ducks. Gravámos o disco num fim de semana e quando o mostrámos o resultado ao Henrique Amaro (da Antena 3) ele quis logo editar a produção da Omnichord Records a nível nacional, na Optimus Discos.

Qual o balanço de um ano de atividade?
Parece-nos francamente positivo. Desde ter acompanhado os Nice Weather For Ducks a concertos e festivais nacionais e internacionais, a ter gravado mais alguns músicos de Leiria. Para além disso, a ideia de reunir editora e agenciamento – ou representação – na mesma estrutura, permite-nos ter relações de proximidade com bandas internacionais (como os espanhóis La Inesperada Sol Dual) ou estruturas de eventos (a Dinosound e o Monkey Week). Preparou-se um festival itinerante por quatro cidades nacionais (o Grito Rock Portugal, em co-produção com a Fade In e com a Once Upon a Draft), gravaram-se videoclips, lançámos um vinil e um CD sampler, que nos parece ter seis temas oriundos de Leiria com uma qualidade extrema. No concerto de aniversário, batemos o recorde de entradas de uma das melhores salas de concertos de Leiria. A Omnichord Records não nos oferece dividendos financeiros, tira-nos muito tempo para lá dos nossos empregos, rouba-nos bocados que estariam destinados à família e aos amigos, mas é extremamente reconfortante sentir que estamos a ajudar a música e a cultura de Leiria e que as bandas têm uma estrutura a que podem recorrer e que lhes permite serem autossubsistentes, podem tocar um bocado por todo o lado e não têm que gastar dinheiro para isso e podem, inclusivamente, amealhar para comprar novos instrumentos.

A indústria discográfica ainda vive uma fase de grande convulsão, tentando compreender-se e adaptar-se às ondas de choque do digital. Neste quadro, como se enquadra uma nova editora? E como sobrevive?
Acreditamos que uma editora faz sentido com a componente de agenciamento e acreditamos que haverá sempre pessoas a quererem comprar discos. Que têm que ser cada vez mais apelativos (musical e esteticamente) e mais acessíveis.

Leiria passa por uma fase de grande dinamismo artístico, sobretudo a nível musical. O que explica toda esta energia criativa?
Talvez porque Leiria seja a melhor cidade do país para se viver. Talvez porque há aqui uma comunidade que cultiva uma filosofia de empreendedorismo voluntarista capaz de colocar as suas competências e apetências a favor da criação de algo novo. Vive-se na música como se vive nos moldes ou no vidro ou nos plásticos ou nas industrias criativas. Leiria é um exemplo e um motor do país. O país ainda não deu por ela, mas o pior é que Leiria aparentemente também não. Temos muita esperança que esta explosão musical ajude nessa tarefa de consciencialização de que a região de Leiria é muito mais do que um sítio porreiro para comer no caminho de Lisboa para o Porto.

Como caraterizam a “cena” musical de Leiria na atualidade?
Uma das mais interessantes e ecléticas que conhecemos. Com dezenas e dezenas de músicos extremamente talentosos nas mais diversas áreas e com vários locais para se poder tocar. Quando demos o CD sampler a ouvir, houve quem nos perguntasse: “Mas estas bandas são todas de Leiria?”. Podemos responder que sim e que há mais sete ou oito propostas que fazem outra compilação excelente. Da música clássica à eletrónica. Dos Concertos para Bebés ao Entremuralhas, Leiria, para a sua proporção, tem tudo.

Há outros artistas que gostassem de representar?
Achamos que nesta altura, e olhando para o CD que acabou de ser lançado, temos muito para trabalhar, com nomes que acreditamos que podem vencer em qualquer palco. Para já temos que nos concentrar nestes, mas a Omnichord Records é sempre uma casa aberta.

Leiria tem alguma tradição na área da edição, com a Rastilho, um fenómeno de longevidade a nível nacional. Encaram-na como concorrência?
A Rastilho têm um trabalho absolutamente notável e vai garantidamente ser um parceiro na sua vertente editorial e de venda online.

Até onde é que a Omnichord Records quer chegar?
Quando em Leiria e na região centro há músicos tão bons e tão criativos que podem gravar discos absolutamente fenomenais, e quando no grupo de amigos tens pessoas que sentem a cidade da mesma maneira e que se prestam a colaborar – como o João Diogo no design, o Ricardo Graça na fotografia, o Carlos Matos e o Pedro Miguel a escreverem e a darem uma mão na promoção… -, esta pode ser a editora com mais bom gosto que conhecemos.

Os artistas da Omnichord Records explicados por Hugo Ferreira e João Santos

Nice Weather For Ducks

Chegam do eixo Carreira-Monte Redondo-Bajouca e lançaram em 2012 o disco de estreia “Quack!”. Fazem belíssimas canções com ritmos que vão da pop ao rock, da world music à dança. Já lançaram três singles e tocaram em vários festivais. Em dezembro, a revista Blitz considerou-os uma das maiores esperanças para a música portuguesa em 2013. Vão lançar o novo disco no último terço do ano.

First Breath After Coma

Venceram em 2012 o concurso ZUS! (concurso promovido pela Fade In para bandas de originais do ensino secundário) e no final do ano o Vodafone Mexefest casting. Lançam “The Escape” e começam a surpreender até críticos internacionais. A sonoridade aproxima-se do pós-rock cantado. O disco de estreia sairá depois do verão.

The Allstar Project

São uma das melhores bandas do mundo. [Nota da Redação: João Santos “Ramon” é guitarrista dos The Allstar Project]. Não são inferiores a uns Mogwai ou a outro qualquer nome mundial do pós-rock. Ao vivo têm um dos concertos mais intensos que alguma vez vi. Com três discos editados, são o segredo mais bem guardado da música nacional e influenciaram decisivamente toda a geração de novas bandas em Leiria. Vão ter que explodir no próximo disco, que deverá sair no início de 2014, mas deve ter avanço ainda em 2013.

Horse Head Cutters

Acreditam que o rock é puro e duro e dão razão a que quem diz que música é energia e suor. Guitarra, baixo e bateria no sítio. Voz entre este e o outro mundo. Se não ouvirmos não acreditamos. Ao vivo são uma explosão.

Team Maria

Liderados por Nuno Rancho, criam perfeitos “hit singles” onde a pop encontra a eletrónica: “Rush Out” é um belíssimo exemplo. Podiam e deviam rodar intensamente em qualquer rádio do mundo.

André Barros

Sempre gostou de música, mas estudou Direito e só aos 22 anos compôs o primeiro tema. Depois estudou produção musical, passou uma temporada no estúdio islandês Sundlaugin (de elementos dos Sigur Rós e dos Múm) e está a trabalhar na banda sonora de um filme rodado na capital islandesa. Os seus temas apresentam influências de música clássica e contemporânea ou nova com uma sensibilidade por vezes quase
pop.

La Inesperada Sol Dual

Depois dos músicos de Leiria, como “bonus track” [no CD sampler e na carteira de artistas da Omnichord Records] estão estes espanhóis de Córdoba, que cruzam rock com eletrónica sem complexos nem preconceitos. São uma das melhores bandas do mundo ao vivo: por isso que a Omnichord Records os agencia.

(Reportagem publicada na edição de 24 de abril de 2013)

Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt


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