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Cultura

Chapéus há muitos… e Pombal foi o primeiro a fabricá-los

No mês em que se assinala a morte do Marquês de Pombal, o município cobriu as ruas de chapéus coloridos. Objetivo: recordar que foi ali que nasceu a primeira fábrica de chapelaria fina portuguesa.

Em finais do século XVIII, eram frequentes as descargas de pele de coelho e de lebre em Pombal. O motivo? Era esta a matéria-prima principal da Real Fábrica de Chapéus da Gramela – a primeira indústria de chapelaria fina a abrir portas em Portugal. Até ao final do verão, a Câmara de Pombal recorda a importância da fábrica para o concelho, com uma exposição de guarda-chuvas que transformou a zona histórica da cidade num imenso céu colorido.

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Ruas do centro histórico de Pombal estão cobertas por centenas de guarda-chuvas coloridos (fotografia: Joana Areia)

Os chapéus que cobrem as ruas foram trabalhados pelos utentes dos lares do município. A cada instituição foram entregues 150 guarda-chuvas e um desafio: que os utentes puxassem pela imaginação e transformassem os chapéus, evocando as sombrinhas usadas pela corte durante a monarquia.

Mas não eram essas sombrinhas que Pombal produzia no século XVIII. A fábrica da Gramela – que iniciou atividade a 24 de março de 1759, por iniciativa do Marquês de Pombal – produzia chapéus masculinos, usados pela população de estatuto social elevado.

“A Real Fábrica de Chapéus teve uma inegável importância para a nação e para Pombal, tendo atraído a esta região pessoas oriundas de diversas partes do país e do estrangeiro”, assegura a diretora do Museu Marquês de Pombal, Cidália Botas. É que, a partir de 1759, acorreram a Pombal mestres (vindos do estrangeiro) e aprendizes, oriundos um pouco de todo o reino.

A unidade esteve na vanguarda do ensino profissional. “A fábrica mantinha 25 aprendizes, que cumpriam um período de aprendizagem obrigatória na arte de chapelaria, de cerca de cinco anos” explica Cidália Botas, acrescentando que, depois de realizarem um exame para obtenção da carta de mestre chapeleiro, os aprendizes podiam estabelecer-se por conta própria

A abertura da fábrica fazia parte da estratégica do Marquês de Pombal para combater a crise económica que assolava o país naquela época. A partir do exemplo de Pombal e da formação que ali era ministrada, Sebastião José de Carvalho e Melo esperava ver nascer outras indústrias de manufatura, em diferentes pontos do país.

O projeto funcionou. Tanto que em 1767, e perante a escassez de maté­ria-prima, o rei emitiu um alvará em que proibia a saída de Portugal de peles de coelho e de lebre. Três anos depois, foi ainda interdita a entrada de chapéus estrangeiros no reino, ao mesmo tempo que se abriam facilidades à exportação.

Porém, o período de prosperidade não terá durado muito. De acordo com Cidália Botas, “não se sabe ao certo até quando a fábrica funcionou, mas em 1814 [36 anos após a queda do governo pombalino] ela já não constava o Inquérito de Fábricas do Reino”. Hoje, resta-nos um céu de guarda-chuvas coloridos.

Exposição até junho

É uma exposição “De se lhe tirar o chapéu”. A partir do próximo sábado, o Centro Cultural de Pombal (no Celeiro do Marquês), acolhe uma mostra que reúne cerca de 120 ilustrações de chapéus, elaboradas por 43 ilustradores.

A exposição é mais uma das atividades promovidas pelo município no âmbito da iniciativa “Maio, mês do Marquês”, que pretende assinalar a efeméride da morte de Sebastião José Carvalho e Melo. Além de chapéus (no centro cultural, em ilustração, e em tamanho real, nas ruas que dão acesso ao Celeiro do Marquês) há ainda para ver uma exposição de perucas – outro dos símbolos de riqueza no período pombalino. Os modelos – construídos por utentes dos lares do concelho – estão espalhados pelas lojas de comércio tradicional da cidade, até 30 de junho.

Sandra Mesquita Ferreira
sandra.ferreira@regiaodeleiria.pt

(Notícia publicada na edição de 15 de maio de 2014)

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