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Andebol: Se Maomé não vai à montanha, vai a carrinha às escolas

Projeto quer levar o andebol até aos estudantes de 1º ciclo, motivando-os a praticar desporto e despertando o bichinho do andebol. Duas centenas de alunos aceitaram o convite do AC Sismaria

Roda-se a chave uma vez… outra… e à terceira a velhinha carrinha do Atlético Clube de Sismaria (ACS) pega. Está dado o pontapé de partida para mais um dia de treinos do Centro de Treino e Aprendizagem (CTA) de mini-andebol nas Colmeias.

São 17 horas e é tempo de ir buscar os atletas à Escola Básica de Agodim. A viagem, entre a Gândara e Agodim, é rápida e a carrinha chega minutos antes das aulas terminarem.

_MG_3163No parque de estacionamento já está outra viatura. É preciso precaver o percalço da semana anterior, numa fase em que o projeto ainda está a arrancar. Na primeira semana, foi uma carrinha e não apareceu nenhum menino para treinar. Na segunda havia lugar para oito crianças e apareceram 11. Esta semana [a 23 de janeiro] preencheram as duas carrinhas.

“É normal, estamos a começar e até agilizar tudo ainda vamos estar algumas semanas a afinar pormenores”, diz Heider Sobral, técnico do ACS, licenciado em treino desportivo de andebol, responsável por esta escola.

As crianças sabem que vão jogar andebol e assim que veem Heider Sobral e João Gonçalves, atleta júnior do ACS que colabora com o CTA, ficam entusiasmados.

Alguns pais e mães acompanham a entrada dos estudantes na carrinha, com as recomendações habituais: “porta-te bem”, “não percas o casaco”.

_MG_3241O regresso fica marcado para dentro de uma hora. “Não se esqueça de me vir levar os meninos”, diz uma mãe para Heider Sobral, que identifica os praticantes e os organiza pelas carrinhas.

Além da escola de Agodim, a rota do ACS prevê ainda a passagem na escola da Bouça, em Colmeias. No entanto, na segunda-feira, quando o REGIÃO DE LEIRIA acompanhou o grupo, as quatro crianças que iam ao treino foram diretamente para o pavilhão de Colmeias.

Treinar a mente
A bola é mais pequena / E o campo também é / Só vale jogar à mão / É falta se jogar com o pé… / Mini mini mini andebol/ Mini mini mini andebol.

A letra está a ser afinada e serve de introdução para o treino. O contacto com o andebol é novidade para muitos dos alunos. Praticam desporto informal com exercícios comuns a todos os desportos, como o agarrar a bola, correr, desmarcar ou passar a bola. Agora começam a ser introduzidas lentamente as regras do andebol.

O Centro de Treino e Aprendizagem, um projeto desenvolvido pelo treinador do ACS, José Bento, arrancou em janeiro em dez escolas do concelho de Leiria. O objetivo é “divulgar a prática do desporto, na vertente andebol, entre as crianças” e desenvolver uma “ação social, com formação académica, social e desportiva para todos”, explica Belmiro Gante, vice-presidente do ACS e diretor do Centro.

_MG_3217Reconhecido como clube formativo pela Federação Portuguesa de Andebol, o ACS desenvolveu nos últimos anos iniciativas semelhantes mas apenas no “seu pavilhão-sede”, na Gândara.

“A principal diferença é que em vez de estarmos parados à espera que os atletas venham ter connosco, agora fomos à sua procura. Sabemos que as dificuldades das famílias são muitas e só encontramos mais valias em treinar estas crianças todas”, explica o dirigente. “Queremos que as crianças pratiquem desporto e isso dá-nos uma alegria fenomenal”, afirma.

Sem qualquer custo para as famílias, o treino acontece uma vez por semana, durante uma hora, e o clube encarrega-se de ir buscar os atletas e ir levar às escolas. Aprendem a praticar mini andebol e, no futuro, se o desejarem, podem prosseguir a prática da modalidade.

Lento mas vantajoso
Chegados ao pavilhão, é hora de trocar de sapatilhas, deixar os casacos, relógios, chapéus e brincos de lado. O mini andebol vai começar.

Lara Oliveira, de 8 anos, vem pela primeira vez ao CTA. Teve conhecimento da atividade através da informação divulgada na escola. O pai, Nélson Oliveira, também ficou agradado com o que viu. “Não conhecia o projeto e pareceu-me bastante estruturado. Além disso foi a Lara que se mostrou interessada em experimentar”, conta, justificando que apesar de viver nos Pousos, como trabalha próximo do pavilhão, o treino encaixa perfeitamente no horário da família.

Apanhada, exercícios de passes e mais tarde um jogo ainda com regras básicas e bolas de andebol fofinhas compõem o treino para os 20 atletas, dos quais 11 são meninas. A pouco e pouco a técnica e a mobilidade vão ganhar raízes e ajudar a desenvolver a componente desportiva.

_MG_3257O ACS está atualmente a trabalhar com mais de 200 crianças nas escolas do 1º ciclo, além dos 140 atletas federados que competem nos vários escalões do clube.

“Se conseguirmos tirar uma fatia de 10-20% dos 200, vamos conseguir um retorno e fazer crescer o CTA. Temos crianças com capacidade de driblar, passe e desmarcação, o que para nós é uma surpresa. É ótimo e se dez fizerem a diferença então vamos trabalhar com eles”, realça Belmiro Gante, certo que o processo é “lento e moroso” mas também progressivo. “Este é o ponto de partida para uma pirâmide larga que pode alimentar as equipas de competição do clube nos próximos anos”, acrescenta.

Se algum deles se vai tornar num Pedro Portela ou Telma Amado do andebol nacional ninguém sabe ainda. Certo é que o projeto do ACS pretende continuar a evoluir, recolher frutos e estender-se a mais escolas nos próximos anos.

O treino termina com muita animação e um sorriso nos lábios quer das crianças, quer dos técnicos, conscientes que na próxima semana a bola vai voltar a rolar. É tempo de pegar nas sapatilhas, mochilas e casacos e regressar às carrinhas, porque os pais já estão à espera das crianças no ponto de partida.

Marina Guerra (texto)
marina.guerra@regiaodeleiria.pt
Joaquim Dâmaso (fotos)
joaquim.damaso@regiaodeleiria.pt

(artigo publicado na edição de 26 de janeiro de 2017 e editado para o online)

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