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Cultura

Interpretação inédita da história de D. Pedro e D. Inês lança debate sobre cultura inclusiva

Pelo auricular, a narradora descrevia ao público o que se passava em palco. No guião, todas as informações estavam em braille e com escrita simples e linguagem pictográfica. Ao lado dos atores, um intérprete traduzia as deixas de cada personagem para Língua Gestual Portuguesa. Foi assim que hoje, 29 de maio, foi apresentada no Museu de Leiria a primeira peça de teatro inclusiva. “Pedro e Inês – Uma história de amor” foi apresentada a todos – mesmo todos – pelos atores do Centro de Educação Especial, Reabilitação e Integração de Alcobaça (CEERIA).

Pela primeira vez em Portugal, uma peça de teatro foi fruída ao mesmo tempo por quem não vê, não ouve, tem mobilidade condicionada ou dificuldades de compreensão num exercício de promoção da cultura inclusiva. 

Todo o texto declamado e os movimentos de palco da história da paixão entre D. Pedro e D. Inês foram transmitidos sem reservas, nesta iniciativa que resultou da parceria entre Instituto Nacional de Reabilitação, Associação de Amigos de D. Pedro e D. Inês, Centro de Educação Especial, Reabilitação e Integração de Alcobaça (CEERIA), Câmara Municipal de Leiria e Politécnico de Leiria (IPLeiria).

O comissário geral das comemorações dos 650 anos da morte de D. Pedro I, Jorge Pereira de Sampaio, lembrou na ocasião que a peça vem não só transmitir a importância do romance e a história política e de poder que transporta, mas também lança “a ideia a todas as instituições ligadas a pessoas com necessidades especiais”.

A autora da peça, Sandra Coelho, sublinha que o projeto conjuga a proximidade à história de Pedro e Inês e a representação de pessoas com deficiências intelectuais. “A dramatização ajuda estas pessoas a lidar com algumas frustrações. Temos que apostar na cultura inclusiva, e espaços como o CEERIA são fundamentais”.

No Museu de Leiria, Maria Helena Alves, do Instituto Nacional para a Reabilitação, citou o artigo 30º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que incentiva os agentes culturais a reconhecer os direitos das pessoas com deficiência e a “participar em condições de igualdade com as demais, na vida cultural e a adotar medidas apropriadas para garantir que possam ter acesso a materiais culturais”.

E a técnica lançou ainda aos agentes culturais o desafio de planear os eventos com uma mente inclusiva: incluir os custos inerentes à acessibilidade no orçamento previsto para os eventos e assegurar a acessibilidade não só nos espaços culturais, mas também na sua divulgação. Maria Helena Alves defendeu ainda que os eventos sejam organizados assegurando diferentes formatos de comunicação, para diferentes públicos, nomeadamente usando a audiodescrição e a tradução em língua gestual portuguesa.

A terminar a sessão, Célia Sousa, coordenadora do CRID, que assumiu a elaboração do guião, lembrou:

“Estamos em 2018 e a cultura inclusiva já devia estar na mente de todos nós. Está na altura de pensar mais nisso. A cultura não é de elites, é de todos nós”.

O Museu de Leiria um espetáculo totalmente inclusivo, preparado para quem não vê, não ouve, tem mobilidade condicionada ou dificuldades de compreensão. Na foto de cima, a narradora da peça; em baixo, a capa do guião inclusivo  Fotos: Joaquim Dâmaso

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