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Sociedade

Bispo de Leiria admite “perturbação” nos fiéis por comportamentos do padre Marco Brites

Arquivada a investigação à morte do padre Marco Brites, e perante a voz indignada de muitos fieis, a Diocese tem vindo a público reafirmar a sua posição perante o caso.

O bispo de Leiria-Fátima admitiu ontem, sexta-feira, que “comportamentos impróprios e reprováveis” do padre Marco Brites revelados pelo inquérito judicial à sua morte, em 2018, causam tristeza no clero diocesano e “confusão e perturbação” nos fiéis e familiares.

“Concluído o processo de inquérito da Polícia Judiciária, que nos merece plena confiança quanto ao seu rigor, foi-nos dado conhecimento do relatório final. Nesse documento estão revelados alguns comportamentos impróprios e reprováveis do padre Marco Brites que, de todo, desconhecíamos até à sua morte”, escreve o cardeal António Marto.

“Tal conduta deixa-nos profundamente tristes, bem como a todos os seus colegas sacerdotes, e causam confusão e perturbação nos fiéis, nos familiares e nas comunidades que servia, por estar em contradição com os compromissos sacerdotais e a probidade moral que dele se esperava”, acrescenta o prelado em comunicado hoje divulgado.

Já na quarta-feira, a Diocese de Leiria-Fátima lamentara que “não tenha sido possível apurar as causas” da morte do padre Marco Brites, pároco da Maceira, Leiria, cujo corpo apareceu no areal de uma praia da Marinha Grande em junho de 2018.

A Diocese reagia, assim, ao arquivamento pelo Departamento de Investigação e Ação Penal do Ministério Público de Leiria do processo sobre a morte do padre.

“As extensas diligências probatórias realizadas não permitiram apurar as causas da morte de Marco Brites, nem estabelecer se a mesma se deveu a homicídio, suicídio ou acidente”, referia o documento de arquivamento, acrescentando que, “não se reuniram indícios suficientes da intervenção de terceiros na morte” de Marco Brites, de 38 anos.

Numa nota divulgada na sua página na Internet e assinada pelo vigário-geral, padre Jorge Guarda, a Diocese lembrava que “colaborou, desde o princípio, com a investigação, incentivando as pessoas que soubessem alguma coisa relativa ao trágico acontecimento a revelá-lo à Polícia Judiciária”.

“O próprio bispo e talvez uma dezena de padres foram inquiridos, dando a conhecer sem reservas o que sabiam sobre o padre Marco e a sua morte”, acrescentava a nota diocesana, lamentando que “não tenha sido possível apurar as causas do misterioso acontecimento e que algumas perguntas fiquem sem resposta. Infelizmente, já não está cá quem poderia esclarecer o que aconteceu e porquê”.

De acordo com o processo, o cadáver do padre da Maceira apareceu na praia das Valeiras, na Marinha Grande, distrito de Leiria, no dia 6 de junho de 2018. O alerta para a Polícia Marítima foi dado por um pescador lúdico, que se apercebeu de algo no areal, pensando inicialmente tratar-se de um golfinho. O padre estava “devidamente vestido e calçado”, tendo consigo um molho de chaves, lenços de papel, uma esferográfica, dinheiro, um terço e uma cruz.

A autópsia médico-legal “admite que a morte tenha sido devida a afogamento”. “As análises toxicológicas realizadas revelaram-se negativas para as substâncias analisadas”.
Também o exame ao corpo não revelou “sinais visíveis de agressão”.

No despacho, a procuradora refere ainda que “na habitação não foram encontrados vestígios nem sinais de violência”, que “nenhuma das testemunhas inquiridas forneceu elementos que permitam apurar as causas do falecimento de Marco Brites” e que “da análise dos elementos fornecidos pelas operadoras de telecomunicações e dos sistemas informáticos apreendidos nada de relevante foi apurado”.

As 42 testemunhas ouvidas pela Polícia Judiciária revelaram que o padre Marco “já tinha tentado o suicídio quando estava no seminário” e que “era uma pessoa querida na comunidade, não tinha problemas com ninguém e desempenhava com competências as suas funções de pároco”.

Segundo referiram, na noite anterior aos factos, o padre ausentou-se de uma reunião da paróquia, confidenciando que tinha “um assunto muito delicado” a tratar.

Algumas pessoas confirmaram que as luzes da habitação estiveram acesas até cerca da meia-noite e o seu automóvel parqueado, sendo que uma das inquiridas confirmou que trocou mensagens telefónicas com o padre até essa hora.

Num dos relatos, uma mulher admitiu que o padre tinha uma relação afetuosa com ela, tendo mesmo admitido que iria deixar o sacerdócio, tendo o seu marido descoberto e avisado que iria contar ao bispo da Diocese Leiria-Fátima.

Outros relatos falam de desvios de dinheiro que teriam sido efetuados pelo padre que o antecedeu na paróquia. Facto que foi desmentido pelo próprio.

O padre desconfiava ainda que um outro padre lhe mexia nas suas coisas, pelo que instalou videovigilância no seu quarto e verificou que a pessoa entrava nos seus aposentos.

Nascido em Monte Redondo, freguesia de Leiria, o seu desaparecimento foi comunicado à GNR por uma paroquiana, que estranhou o facto de Marco Brites ter faltado a várias confissões e a visita a doentes.

Hoje, o cardeal António Marto aproveita para “manifestar o apreço pelos sacerdotes da Diocese que, mesmo com as suas limitações e fraquezas, se dedicam inteiramente a Deus, cuidando generosamente do bem espiritual do Seu povo” e condena “todas as insinuações caluniosas que pretendem responsabilizar qualquer sacerdote ou outras pessoas na morte do padre Marco Brites”.

“Conforme explícito nas conclusões do processo de investigação criminal que relatam os factos de forma inequívoca, não foram encontrados indícios nesse sentido”, escreveu o bispo de Leiria-Fátima.

Lusa


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