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Cultura

Idosos isolados de Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande recebem espetáculos em casa

Até ao final de maio, 32 habitantes assistem a propostas culturais desenvolvidas pela SAMP

Filarmónica Pedroguense, de Pedrógão Grande

Idosos que vivem isolados em aldeias dos concelhos de Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande recebem ao domicílio espetáculos dedicados do projeto “Palco em Casa”.

A iniciativa é da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP), de Leiria, e da Filarmónica Pedroguense, de Pedrógão Grande, e visa combater o isolamento e solidão em aldeias esquecidas do interior, marcadas pela erosão demográfica.

Até ao final de maio, 32 desses habitantes assistem a propostas culturais desenvolvidas pela SAMP a partir das preferências de cada um, com produção esmerada: artistas profissionais vão atuar num palco com condições de luz e som especialmente desenvolvido para ir até às salas e átrios de cada casa, explica a coordenadora de “Palco em Casa”.

“Nos últimos meses fomos ter com estas pessoas e pedimos para escolherem: uns falaram de pintura, porque gostavam de ter o seu retrato pintado, outros queriam música de concertina, outros falaram em revista à portuguesa… A expectativa é grande, da nossa parte e da parte deles, até porque eles não têm bem noção do que preparámos para lhes oferecer”, diz Raquel Gomes.

Depois da estreia, na sexta-feira, dia 9, em que a equipa visitou a aldeia de Pereira, na freguesia da Aguda, em Figueiró dos Vinhos, programa parte para Campelo, em Figueiró dos Vinhos, e Lameira Cimeira, em Pedrógão Grande. Até 14 de maio, outras casas de oito aldeias acolhem concertos, teatro, dança, pintura, poesia e até um rancho folclórico.

“Palco em Casa” esperou pelo desanuviar da pandemia e cumprirá várias regras de segurança. “Estamos a planear que, sempre que possível, seja no exterior, pelo menos nos primeiros concertos”, nota Raquel Gomes.

Para criar laços com esta população abandonada, em cada sessão vão participar alunos das classes de música SAMP e seus familiares. “Queremos que sintam na pele como um gesto tão simples pode ser tão importante e impactante. Alguns destes idosos há muitos anos não veem uma criança”.

A intenção é que, no final do ano letivo, esses estudantes de música voltem às aldeias para fazer lá as audições finais de avaliação, criando laços de amizade intergeracional.

“Não queremos que isto acabe no final do espetáculo”, frisa a coordenadora, que tem ouvido muitas queixas do público selecionado com ajuda das autoridades e serviços de assistência locais. “Estas são pessoas muito calejadas pelo abandono. Estas aldeias sofreram com a calamidade dos fogos [de 2017] e todas se queixam de que lá foram as televisões e os políticos fazer promessas mas, de repente, sentiram um grande abandono. A nós também dizem que os vamos abandonar…”.

Por isso, a SAMP pretende candidatar um novo projeto ao apoio do programa Portugal Inovação Social, de modo a “dar continuidade ao projeto em aldeias vizinhas”.

“Há aldeias onde há muita gente sozinha e onde não há qualquer intervenção nem atividade”, lamenta.

Nesta primeira fase de “Palco em Casa”, os anfitriões vão poder convidar alguns vizinhos e os familiares podem assistir através da internet.

Na segunda fase, em junho, as filarmónicas da SAMP e de Pedrógão Grande vão realizar arruadas nestas aldeias. “As famílias dos músicos também vão e, sempre que possível e se a pandemia permitir, vão ali acampar”, acrescenta a coordenadora do projeto, lembrando que este será “um momento especial” para as aldeias quase sem vida, mas também para os músicos filarmónicos, que “estão parados há muito tempo”.

Em julho, as duas filarmónicas têm previsto um concerto de encerramento em Leiria

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