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Cultura

Fazunchar repovoa Figueiró dos Vinhos com pequenos “habitantes” e oito novos murais

A terceira edição do festival de artes voltou a agitar o concelho durante nove dias, acrescentando mais motivos de visita à coleção de arte urbana a céu aberto que dá cor ao município.

Esperam-nos à janela, espreitam-nos nas esquinas, fitam-nos em equilíbrio aparentemente precário (quase suicida) sobre cabos elétricos e candeeiros e até se contorcem de dor numa das paredes. São os novos “habitantes” de Figueiró dos Vinhos, pequenas figuras que Isaac Cordal instalou na vila durante a terceira edição do festival Fazunchar.

Cada vez mais uma galeria ao ar livre, Figueiró dos Vinhos é agora casa de mais uma intervenção do artista galego em Portugal. Um trabalho que faz olhar para cima, apresentando-nos aspetos urbanísticos habitualmente ignorados.

Mais do que isso, as pequenas figuras de cimento – quase todas cinzentas, algumas assustadoras e um par delas bastante irónicas – incitam à reflexão, do questionamento sobre a ação humana na natureza ao futuro de um território demograficamente deprimido como é o norte do distrito de Leiria e o interior do país.

Ao todo há 13 pequenas estátuas a descobrir, além das oito pequenas casas que Cordal colocou em paredes, árvores, chaminés e nichos de Figueiró, habitáculos que abrigam outras oito personagens, com uma particularidade: à noite o minúsculo lar ganha luz, constituindo um incentivo a passeios noturnos pela vila.

Explorando alguns dos mais criativos caminhos da arte urbana, Fazunchar convidou também Bosoletti a deixar marca em Figueiró. O resultado são dois murais em edifícios vizinhos que retratam duas figuras imersas nas águas da Ribeira do Alge, nas Fragas de São Simão. Aparentemente são pinturas quase banais, mas a obra do artista argentino tem truque: são pintadas em negativo, sendo preciso usar um telemóvel para as “revelar”.

Entre as novidades deste ano, é importante também salientar o património sentimental captado por Mariana Duarte Santos, nas Bairradas, e Elisa Capdevila, no centro de Figueiró: reproduzindo fotografias de piqueniques do antigamente e de uma excursão escolar, as duas artistas mexem com a memória e a saudade dos habitantes do concelho.

Ao longo de nove dias de Fazunchar, nasceram ainda outras obras relevantes: a releitura do quadro de José Malhoa, “Embraçar cebolas”, pintada por Third no Campelo; a enleante intervenção de Pantónio numa fachada na vila; a divertida “pele” com que Perrine Honoré envolveu num posto de transformação em Almofala de Baixo; ou a homenagem que Samina deixou na Rua Principal de Arega.

Esta edição de Fazunchar mobilizou 16 artistas nacionais e internacionais, nas várias intervenções e também em concertos, workshops, residências artísticas e numa exposição de fotografia repartida pelas ruas e pelo Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos. Ao todo, acrescentam-se oito novos murais e 21 instalações às 42 obras criadas na vila e nas freguesias nas duas primeiras edições.

O festival voltou a atrair muitos visitantes, em número difícil de calcular num evento gratuito e realizado sobretudo ao ar livre. Mas, segundo a produtora Mistaker Maker e o município de Figueiró dos Vinhos, que partilham a organização, mais de 140 pessoas estiveram nas três visitas orientadas, participantes que viajaram de Ovar, Lisboa, Seixal, Coimbra, Porto de Mós, Ansião, Leiria, Aveiro, Pombal, Porto, Caldas da Rainha e até de Barcelona. Os workshops mobilizaram quase meia centena de inscritos e os concertos de Fred e Amaura esgotaram a lotação de 90 lugares do Clube Figueiroense.

A quarta edição de Fazunchar está já prometida e, nela, serão apresentados os trabalhos de desenho e fotografia realizados por Francis.co e Miguel Oliveira, respetivamente. Em breve, a realizadora Mariana Vasconcelos revelará os frutos da residência artística de vídeo que realizou durante as duas semanas do festival.

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