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Teatro Exclusivo

Há uma versão feminina da Batalha de Aljubarrota pronta a ser revelada este fim de semana

Em Aljubarrota, esta sexta-feira e sábado, as companhias A Corda, Livre e S.A. Marionetas juntam-se para contar a batalha de 1385. Mas trazem para primeiro plano quem foi apagado da história: as mulheres.

Uma das marionetas gigantes construídas pelas S.A. Marionetas para “Margens da Batalha: as mulheres de Aljubarrota”. As construções, com 5 metros de altura, juntam-se a um elenco de cerca de 60 elementos e prometem impressionar no espetáculo que terá duas únicas representações, ambas na Estalagem do Cruzeiro, em Aljubarrota, esta sexta-feira e sábado, 13 e 14 de agosto, às 21 horas. A entrada é livre, mas carece de reserva de bilhete (máximo 4 por pessoa) pelo e-mail cultura@cm-alcobaca.pt ou 262 580 857 Foto: Ana Pereira

Das mulheres não reza a história, mas três companhias de teatro têm estado nos últimos meses a tratar para que seja diferente. Mais especificamente, que assim não seja na Batalha de Aljubarrota, onde houve mais mulheres (até de armas) para lá da “mediática” padeira.

Na Estalagem do Cruzeiro, em Aljubarrota, estreia esta sexta-feira “Margens da Batalha: as mulheres de Aljubarrota”. Nesta versão do confronto entre portugueses e castelhanos, mora a popular Brites de Almeida e outras mulheres esquecidas, ignoradas ou secundarizadas. As companhias A Corda, S.A. Marionetas e Livre colaboram para recolocar as mulheres no centro da ação.

“A batalha é feita muito por homens, mas no meio [deles] havia mulheres escondidas, a fazer de homens ou mesmo como mulheres”, conta o encenador Ruben Saints, d’A Corda, que tem levado a palco “o empoderamento feminino na cultura e na nossa história”.

À partida, a Batalha de Aljubarrota tem já como protagonistas figuras marginais, bastardos ou não-primogénitos sem direito a nada, nota Elsa Maurício Childs. “São também figuras marginalizadas, daí o título (‘Margens da Batalha’)”, lembra a autora do texto. Mas aqui a atenção está em quem “foi sempre silenciado pela História”, mulheres menorizadas pela presença do homem, “herói e dominador”.

Para a peça, Elsa Maurício Childs socorreu-se de textos canónicos sobre a Batalha, como o Canto IV d’“Os Lusíadas”, de poemas de Fernando Pessoa na “Mensagem”, mas também da grega Safo, de Sophia de Mello Breyner ou de Fiama Hasse Brandão. Teceu-os com os próprios textos para narrar o ponto de vista destas mulheres.

E quem são elas? Além de Brites de Almeida, há Maria de Sousa, “figura super-caricata que tem a ver com o salvamento do Rei D. João I”, e Joana Gouveia (ou Fernandes), “que mandou o que tinha à mão, água a ferver e pedras, para afugentar e provocar grandes queimaduras nos castelhanos”, conta Ruben Saints. Elas lutaram em igualdade, “ao lado dos homens”, havendo documentação que o comprova, frisa Elsa Maurício – “não descobrimos a pólvora, estamos é a dar foco a isso”.

Mas o espetáculo destaca ainda o papel de Filipa de Lencastre, que casou com D. João I, e de outra mulher que inspirou a vitória, “e que é esquecida por causa, talvez, da religião”, diz o encenador: Nossa Senhora da Oliveira, a quem D. João prometeu que ia a pé ao Porto se vencesse.

Em “Margens da Batalha” sugere-se “uma nova reflexão” sobre “a força que uma mulher pode ter numa batalha”. “Estamos sempre habituados a ouvir o lado masculino. Esta história no feminino é outro universo”, reforça Ruben Saints, que quer passar uma mensagem fundamental: “Em qualquer situação da história, que pensamos ser feita sempre por homens, as mulheres sempre estiveram lá”.

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