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Leiria

Moradores de prédio sem condições, em Leiria, já estão realojados

Caso foi denunciado em setembro, pelo Bloco de Esquerda.

Já não vive ninguém no nº 40 da rua Comandante João Belo, em Leiria. As 14 pessoas que ali moravam, algumas há anos, foram todas realojadas ou arrendaram um “novo” quarto depois dos serviços de Saúde Pública terem determinado o encerramento do prédio por falta de condições mínimas de habitabilidade.

Em pouco mais de duas semanas, e depois de o BE ter denunciado, em setembro, o estado de degradação do edifício para onde eram encaminhadas pessoas em situação de vulnerabilidade económica e social, encontraram-se alternativas para uma situação que se arrastou durante anos, ainda que conhecida de várias instituições de apoio social.

Cinco moradores foram encaminhados para lares, unidade de cuidados continuados e programa Housing First, mas os que não quiseram integrar estas respostas sociais tiveram de procurar quarto para arrendar sem o apoio esperado dos serviços locais de ação social.

Foi o caso de Maria (nome fictício) que não quis ir para o Centro de Acolhimento de Emergência Social de Alfeizerão. Com 62 anos, diz ser autónoma apesar dos problemas de saúde, e insiste em manter a sua independência.

Quanto ao prédio da D. Celeste, onde viveu nove anos, “as condições nunca foram boas mas era melhor estar aqui do que estar na rua”, afirma.

O facto de poder ter com ela os dois gatinhos que a ajudam a enfrentar os dias tem sido um fator decisivo para ali continuar. Os animais foram, a par das rendas elevadas e dos pedidos de caução, a sua maior preocupação na busca de um novo quarto. Mudou-se no domingo.

Na sexta-feira, e segundo informação da vereadora Ana Valentim, três pessoas estavam ainda a ter acompanhamento da Segurança Social e das instituições parceiras, prevendo que a situação estivesse resolvida na passada segunda-feira.

Quanto à falta de soluções para realojar os moradores até ao momento, Ana Valentim sublinha que algumas pessoas, “que até tinham rendimentos para estar noutro sítio, fizeram sempre muita questão de ficar apesar das condições serem muito precárias, porque queriam estar no centro da cidade” e “houve muita resistência de algumas pessoas em sair”. Acrescenta ainda que também “mais nenhuma entidade os recebeu”.

Na passada semana, em resposta escrita ao REGIÃO DE LEIRIA, o ISS salientava, sem quantificar, que alguns residentes estavam “a rejeitar propostas de integração em estrutura residencial para pessoas idosas (ERPI) e na resposta CAES – Centro de Acolhimento de Emergência Social, insistindo na modalidade de arrendamento de quartos, não obstante o mercado da cidade de Leiria revelar saturação”.

Quase uma dezena de pessoas vive em condições precárias numa habitação no centro histórico

Sobre a falta de exigência de obras por parte da Câmara, Ana Valentim remete mais esclarecimentos para o pelouro das Operações Urbanísticas, adiantando apenas que a proprietária do prédio entregou um pedido de licenciamento para o efeito.

Em declarações ao REGIÃO DE LEIRIA, a proprietária Celeste Teixeira confirma essa intenção, afirmando que o processo já deu entrada na Câmara. Refere ainda que nunca conseguiu fazer obras porque os inquilinos “não queriam sair” por não terem para onde ir e diz ter de agradecer a quem denunciou o caso por ter chegado a este desfecho. “Graças a Deus, foram lá aqueles senhores e ainda bem que as pessoas saíram assim e estão todas alojadas e não está nenhum sem-abrigo”, acrescenta.

Confrontada com a falta de higiene e manutenção, fixação de dias para banhos ou máquina de roupa fechada a cadeado, Celeste Teixeira apenas adianta que, “em todo o lado tem que haver regras”, além de que “pagavam pouco – 100, 120, 130 era o máximo – para aquilo que gastavam”. “Só em água e luz, tenho faturas de 500 euros”, nota, referindo que o prédio começou a degradar-se quando saiu, há uns cinco anos. “Quando vivia lá, era tudo limpinho e arranjadinho”, garante.

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