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Sociedade

Presépios mantêm tradição e transmitem mensagem de sustentabilidade

Há os tradicionais, os gigantes e os sustentáveis. São muitos os presépios que existem espalhados um pouco por toda a região, sempre com uma mensagem para a comunidade. Disponíveis para visita até aos primeiros dias de janeiro, deixamos algumas sugestões para um roteiro nesta quadra.

Manuel Fiteiro não tinha mais de nove anos quando, à saída de uma missa de Natal, na igreja dos Franciscanos, em Leiria, se encantou com um presépio animado. A ideia nunca mais lhe saiu da cabeça, e volvidos quase 40 anos conseguiu concretizar um presépio à medida dos seus sonhos, todo ele em madeira e esculpido com canivete.

O resultado de 30 anos de labor pode ser hoje apreciado na Aldeia de Natal que a Associação para o Desenvolvimento da Matoeira e do Carril (ADEMAC) voltou a montar no largo da Matoeira, freguesia de Regueira de Pontes, Leiria.

Cerca de 40 figuras e três dezenas de profissões e ambientes tradicionais compõem o presépio com mais de cinco metros quadrados. Do carpinteiro ao construtor, do cavador ao oleiro, do soldado à costureira, do pastor ao sapateiro, tanoeiro, ferreiro, canteiro, padeiro e serrador, da moagem do trigo à limpeza o milho, da lida de casa ao tocar do sino, está representado aquele que já foi o quotidiano do dia a dia de uma aldeia.

Obra de Manuel Fiteiro resulta de mais de 30 anos de dedicação.

Natural de Marrazes, Manuel Fiteiro, hoje com 77 anos, vive desde que casou no lugar de Chãs, em Regueira de Pontes. Trabalhou numa carpintaria, esteve emigrado em França durante sete anos e foi funcionário da Câmara de Leiria, na recolha de resíduos e na carpintaria. Foi nos seus tempos livres que começou a esculpir peças em madeira.

Não consegue contabilizar as horas que lhes dedicou nem comparar o grau de dificuldade, mas confessa que as mãos dos figurinos têm sido o seu maior desafio, pelo detalhe e os cortes nos dedos que lhe têm valido.

A montagem do presépio levou-lhe uns três dias, sendo que, por baixo da bancada, escondido dos olhares dos visitantes, está todo um mecanismo feito de madeira e de cordas, movido a motor, que dá vida a todas as cenas. Autodidata, sem nunca ter estudado engenharia, orquestrava o sistema durante a noite, deitado na cama, conta ao REGIÃO DE LEIRIA.

Em 2006, a convite de Isabel Damasceno, então presidente da Câmara de Leiria, Manuel Fiteiro expôs o seu presépio no Palácio de Belém. Depois disso, esteve patente na igreja da Misericórdia, na sede da Filarmónica de Chãs, nos Terraços do Lis e no Posto de Turismo de Leiria, entre outros espaços.

O presépio está agora integrado na Aldeia de Natal da Matoeira, projeto que envolveu cerca de 30 voluntários durante mais de dois meses, com a construção de passadiços de acesso, a cascata, a casa do Pai Natal, o presépio exterior, o ribeiro com moinho de água e sistema de caleiras e o celeiro onde as burras Urrita e Frutinha, mãe e filha, marcam também presença para regozijo dos mais novos aos fins de semana. A equipa continua dedicada ao projeto com a confeção aos domingos de pão quente, simples e com chouriço, cozido em fornos a lenha.

No passado domingo, a ADEMAC prestou homenagem a Manuel Fiteiro pela sua colaboração e trabalho de uma vida.
Um pouco por todos os lugares e aldeias há presépios para descobrir.

No concelho de Leiria, na Moita da Roda, a comunidade reuniu-se em torno do tema “Criar a Reciclar”, alertando para a importância de reciclar, e deu forma a dez presépios colocados nos antigos fontanários da localidade.

Presépio de 1.200 figuras

É já uma tradição na cidade vidreira: o presépio a que o contabilista Filipe Ferreira dedica horas incontáveis, aterra no edifício da Resinagem, para fazer as delícias de quem acha que quadra natalícia e presépio são indissociáveis.

O presépio tradicional que este jovem com pouco mais do que trinta anos de idade dinamiza ano após ano, começou na casa dos avós, na Comeira, no início do século. Anos mais tarde, a convite do município, passou a mostrá-lo no Edifício da Resinagem.

presépio em barro construído por Filipe Ferreira
Filipe Ferreira começa a preparação do presépio no verão.

A preparação do presépio começa no verão e a sua montagem leva vários dias. E todos os anos, há algo que se acrescenta. Desta feita, destaca-se um novo estábulo, uma das novidades do presépio que conta com cerca 1.200 figuras de barro e não só.

Para além do nascimento de Jesus, o presépio reflete igualmente outros cenários, alguns lusos, que fazem os visitantes recuar no tempo. Uma das particularidades é a forte componente de elementos que envolvem o uso de água: cascatas, fontes de água e outros elementos com movimento.

Numa área de 50 m2, a imaginação assume o controlo enquanto se visita o presépio.

Este presépio pode ser visitado até 9 de janeiro, de terça-feira a domingo, entre as 10 e as 13 horas e das 14 às 18 horas.

Pombal olha para o futuro

Em Carnide, construção do presépio demorou 15 dias e envolveu 20 pessoas.

É um dos maiores presépios do concelho de Pombal. Está instalado ao lado da Igreja Paroquial de Carnide, numa superfície com cerca de 60 metros quadrados e tem mais de 30 personagens, em cerâmica. O presépio de Carnide já é uma tradição com mais de vinte anos, desenvolvida pelo Grupo de Jovens da freguesia (já extinto) que o tornou num dos mais emblemáticos presépios da região.

Atualmente, a execução do presépio é da responsabilidade da Paróquia de Carnide que, há cerca de sete anos, mantém esta tradição viva com a preocupação de construir um presépio “sustentável” que também reflita os valores das novas gerações. “A maioria dos materiais é reutilizável. A cabana do menino Jesus, por exemplo, é a mesma há mais de dez anos”, explica Sílvio Lopes, um dos membros do conselho económico da Paróquia.

A inovação do presépio passa pelo cenário que muda todos os anos. “Este ano, instalamos o presépio numa plataforma inclinada, de forma a realçar mais as personagens”, informa o responsável. Este é também um presépio que representa os usos e costumes desta localidade. “Carnide é uma freguesia muito rural que, durante muitos anos, viveu muito da agricultura, e as figuras deste presépio representam esta ruralidade”, destaca.

A construção do presépio demorou 15 dias e envolveu a colaboração de cerca de 20 pessoas, incluindo escuteiros do Núcleo de Escutismo de Carnide. O presépio de Carnide pode ser visitado até ao Dia de Reis (6 de janeiro).

Também no Louriçal são várias as razões que tornam o presépio especial. Esta é uma ‘obra’ que ocupa quase a totalidade da Praça Joaquim Silva Cardoso, no centro da vila e, para além de ser construído com personagens em tamanho real, este ano, tem como tema principal a sustentabilidade e apresenta várias novidades. Pela primeira vez, esta representação do cenário do menino Jesus inclui uma lagoa com um duplo significado, uma ponte que permite tirar selfies e um QR-code com um vídeo que conta a história do presépio.

Presépio inclui uma ponte onde é possível tirar selfies.

Idealizado e construído pelo Agrupamento de Escuteiros com o apoio da Junta de Freguesia do Louriçal, este presépio é uma adaptação do conceito do presépio tradicional português (que, para além da família sagrada, inclui outras figuras que representam algumas tradições portuguesas) à realidade do Louriçal.

“Todos os anos, temos acrescentado uma figura alusiva às profissões mais importantes na nossa freguesia”, começa por referir Vítor Mota, o chefe do Agrupamento de Escuteiros, explicando que, este ano, acrescentaram uma lagoa com pescadores para sensibilizar para o problema da poluição que também afeta a freguesia. “Esta lagoa representa os pescadores que existiram outrora na freguesia mas também as zonas que foram desvalorizadas e poluídas. Um dos pescadores pesca um peixe, enquanto o outro pesca um pneu de automóvel”, esclarece o responsável.

De destacar ainda que, neste presépio, o estábulo se encontra sem o menino Jesus que é colocado apenas na noite de 24. A execução do presépio demorou cerca de 15 dias e envolveu a participação de 32 pessoas.

O presidente da Junta de Freguesia do Louriçal, José Manuel Marques, realça a importância deste presépio na valorização do património histórico da vila. “Esta é uma praça histórica que remonta aos valores que o presépio simboliza, e que convida a visitar os monumentos da vila, como o Convento do Louriçal, um dos mais ricos do distrito”, elucida o presidente de Junta. O presépio do Louriçal pode ser visitado até ao dia 6 de janeiro (Dia de Reis).

12 imagens em Aljustrel

A comunidade de Aljustrel (aldeia natal dos pastorinhos) recebe quem passa na avenida dos Pastorinhos, à entrada do povoado, com um presépio. A tradição tem duas décadas e tudo é feito com o labor e empenho de duas dezenas de moradores.

Presépio de Aljustrel, em Ourém, é composto por 12 imagens de marfinite.

A cena traduz a chegada dos reis magos ao presépio e expressa os votos de Feliz Natal dos habitantes de Aljustrel. São 12 imagens de marfinite, a maior com 1,5 metros de altura, que dão nova vida a este presépio. As peças foram custeadas pelos habitantes que, além de uma verba de reserva, angariaram fundos em eventos ao longo do ano.

No início de dezembro, começa habitualmente a operação natalícia para embelezar o espaço, num trabalho feito com gosto e devoção, sobretudo pelos seniores que lamentam que os mais novos não dêem o seu contributo.

Depois de 6 de Janeiro, as ovelhas, o pastor e o cão vão continuar no local, junto à cabana, para lembrar outros tempos, quando Fátima era terra de pastoreio, numa alusão aos videntes.

Em ourém, é ainda possível ver o trabalho da comunidade de São Sebastião, na Atouguia, e, em Espite, a mostra de presépios das associações e coletividades junto à igreja. O canto do Carvalhal, no Cercal, apresenta também, um presépio elaborado por um grupo de moradores.

Textos de MR, CSA, SSC e LO

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