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SOS Ucrânia

Refugiados encontram no estádio de Leiria uma porta para o recomeço

Os camarotes do estádio foram adaptados como quartos para acolher 54 pessoas.

Olga Postolenko saiu de Kiev, na Ucrânia, no dia 2, juntamente com os filhos – Maria, de 14 anos, e Igor, de 10 – e a cadela Linda, de um ano. Foi a pé até à Roménia, onde descansou com a ajuda de voluntários. Apanhou um autocarro e passou pela Hungria, Eslovénia, Itália, França e Espanha. Chegou a Portugal e dirigiu-se para Leiria, na passada terça-feira.

Estava à porta do estádio quando o REGIÃO DE LEIRIA se preparava para visitar as instalações onde os refugiados ucranianos vão ficar. A família partilhou a sua história com o nosso jornal e é capa da edição de 10 de março.

Sem familiares na região, os amigos que fez, quando há cinco anos esteve emigrada em Leiria, aconselharam-na a vir. Agora, diz, “só” quer reconstruir a vida. “E descansar, descansar e descansar”, acrescenta Olga Postolenko, assim que lhe indicam o quarto onde vai ficar nos próximos dias.

Igor ficou com os olhos esbugalhados quando entrou no camarote e olhou para o relvado. Como a maioria das crianças da sua idade, gosta de jogar futebol. Maria levava Linda pela trela que, há primeira oportunidade se deitava no chão, cansada da viagem de mais de quatro mil quilómetros.

Para trás, Olga deixou os pais, a avó, a irmã, o cunhado e dois gatos, numa aldeia perto de Kiev.

No foyer do piso 1, estão instalados uns sofás, um ecrã gigante ligado num canal infantil e alguns colchões com brinquedos. “Este era o nosso quartel-general para a Covid que agora passou a ser o quartel-general dos refugiados. Esta era uma missão que tínhamos que agarrar”, afirmou Gonçalo Lopes, na terça-feira, quando visitou na companhia da Secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira, o Centro de Acolhimento Temporário, criado no dia anterior.

Duas dezenas de camarotes foram transformados em quartos, existindo 54 camas, uma oferta que, de acordo com o município, pode “ser alargada em função das necessidades”.

Ontem, ao final do dia, outras 13 pessoas, sete das quais menores, que viajaram desde a Hungria, na caravana humanitária que saiu de Leiria, também se instalaram no Centro. Vão ali permanecer enquanto tratam de todo o processo que permita a sua integração na comunidade o mais rápido possível. O processo repetir-se-á sempre que necessário, acrescenta o município.

Terça-feira, Ksenia Kotova também estava no Centro. O REGIÃO DE LEIRIA encontrou-a, na quinta-feira passada, no parque de estacionamento do estádio, a trabalhar como voluntária na campanha de recolha de bens. Tinha os olhos raiados, resultado do cansaço e da preocupação dos últimos dias, e procurava uma resposta para uma amiga que viajava com dois sobrinhos a partir da Polónia. “Ligou-me a perguntar se podia fazer qualquer coisa, para ter a certeza que não há risco em fazer a viagem [sem documentação]”, explicou na altura ao nosso jornal.

De sorriso nos lábios e com os olhos limpos, Knesia Kotova apresentou-nos, na terça-feira, a sua amiga e as crianças. Estavam a falar com elementos da comunidade ucraniana, para saber como podem começar a frequentar a escola, encontrar uma casa e encontrar trabalho. Chegaram a Leiria no dia 4, depois de terem deixado Kiev rumo à Polónia de carro. Apanharam um comboio para a Alemanha e viajaram de avião para Lisboa.

Ksenia Kotova, amiga de longa data e a viver em Leiria há vários anos, cedeu-lhes a cama e está a dormir no sofá.

Ainda é difícil lidar com as emoções. As crianças fogem ao aparato mediático que, por estes dias, também são vítimas. Escondem-se das máquinas fotográficas.

Os adultos conversam na língua materna, o que lhes dá um (ligeiro) aconchego, mesmo perante desconhecidos, que já começam a ser família.


Secção de comentários

  • André Rodas disse:

    Só espero que todo este aparato da chegada de tantos ucranianos com modos de vida e de estar, não venha prejudicar o bem estar e segurança da população portuguesa

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