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Sociedade

Associação de Vítimas de Pedrógão Grande: “Centro é sempre mais atingido porque é o que está mais abandonado”

Presidente da associação viu imagens dos incêndios de ontem e critica terrenos por limpar: “Parece que as regras são só para cumprir num determinado local do país”, lamenta Dina Duarte.

"Junto às vias de comunicação, nas estradas, as faixas dos 100 metros têm de ser uma realidade. Doa a quem doer!", diz Dina Duarte Joaquim Dâmaso

A presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Dina Duarte, considerou hoje que o Centro do país é sempre o mais atingido pelos incêndios devido à saída dos jovens e consequente abandono de propriedades.

“O Centro é sempre o mais atingido porque é o que está mais abandonado. É o que sofre muito mais com as migrações dos nossos jovens para o litoral ou estrangeiro, e, com tudo isso, ao longo dos anos, as propriedades foram deixadas ao abandono”, lamentou.

Desde quinta-feira, incêndios de grande dimensão atingiram vários concelhos da região Centro, entre os quais Pombal, Leiria, Ourém, Alvaiázere e Ansião. Os incêndios de Ourém e Alvaiázere encontram-se em fase de resolução, enquanto as chamas exigem maiores preocupações nos concelhos de Leiria, Ansião e Pombal.

Em declarações à agência Lusa, Dina Duarte sublinhou que, com a saída dos mais jovens para o litoral ou para o estrangeiro e o envelhecimento da população, há todo um conjunto de hortas, quintais e quintas que deixaram de ser cultivados, sendo “mais um espaço ao abandono” nas imediações de aldeias e vilas.

“Esta é verdadeiramente a realidade do interior do país e o interior não é só Pedrógão [Grande], Figueiró [dos Vinhos] ou Castanheira [de Pêra]. É todo um país que não está à beira-mar, que não está no litoral”, acrescentou.

De acordo com a presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, pouco ou nada se aprende com os incêndios que se têm sucedido ao longo dos anos.

“Ontem [terça-feira] tive a oportunidade de ver, na televisão, espaços que à partida deviam estar limpos, junto às aldeias ou junto às estradas e não estão. Parece que as regras são só para cumprir num determinado local do país e que noutras partes do país não era necessário fazer essas limpezas, porque se calhar não iria acontecer este tipo de fenómenos”, referiu.

No seu entender, é imprescindível que a lei seja efetivamente cumprida e que seja feita a gestão das faixas de combustível nos 100 metros junto das aldeias”.

“É aí que nós podemos ganhar algum espaço de manobra para poder acalmar um fogo que venha mais forte e que possa chegar as aldeias de outra forma. E obviamente junto às vias de comunicação, nas estradas, as faixas dos 100 metros têm de ser uma realidade. Doa a quem doer!”, destacou.

À Lusa, Dina Duarte apontou a necessidade de serem criadas medidas de valorização do interior, para que todo um conjunto de pequenas e médias empresas possam estabelecer-se no interior e fixar jovens.

“Quando deixamos de ter os nossos jovens no interior porque vão procurar outra forma de vida melhor, perdemos o melhor sangue que temos e ficamos entregues às pessoas com mais idade. Com o passar dos anos, a tendência será sempre para piorar, se nada for feito para contrariar este despovoamento”, alertou.

A presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande recordou ainda que em 2017 “tudo falhou” e que, cinco anos depois, “pouco evoluiu na questão do combate”, registando-se “incêndios que se mantêm ativos muito tempo”.

“Creio que não é por falha dos que combatem e dão o corpo às chamas, agora não percebo como é que um comando nacional continua a deixar que isto aconteça e não há uma intervenção a sério. Como país, continuamos a falhar e a não aprender com o passado”, sustentou.

Os incêndios que deflagraram em junho de 2017 em Pedrógão Grande e que alastraram a concelhos vizinhos provocaram a morte de 66 pessoas, além de ferimentos a 253 populares, sete dos quais graves. Os fogos destruíram cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.

Em outubro do mesmo ano, os fogos na região Centro provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos, registando-se ainda a destruição, total ou parcial, de cerca de 1.500 casas e mais de 500 empresas.

No início da semana, o presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, António Lopes, apelou aos seus munícipes para serem vigilantes, protegerem a floresta e não terem comportamentos de risco, numa altura em que o país atravessa um momento de “elevadas temperaturas e seca”.

“Temos ainda presente os acontecimentos de 2017, por isso, devemos estar mais preocupados, estar atentos e fazer tudo para nos ajudarmos e evitar que se repitam”, concluiu.

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