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Saúde

Pediatras do hospital de Leiria exigem fecho da urgência à noite quando faltarem médicos

Num abaixo-assinado, datado de segunda-feira, a equipa médica do serviço de Pediatria sublinha que “não estão reunidas as condições de segurança para o exercício da atividade médica de qualidade na urgência pediátrica, no bloco de partos e na maternidade”.

Médicos da Pediatria do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) exigem o fecho da urgência pediátrica no período noturno e do bloco de partos quando faltarem médicos e pedem que não seja aceite a atividade obstétrica do Hospital de Caldas da Rainha.

Num abaixo-assinado ao qual a agência Lusa teve hoje acesso, a equipa médica do serviço de Pediatria do CHL exige, quando nos turnos haja indisponibilidade de elementos para escala e fique apenas um pediatra, o encerramento da urgência pediátrica “a todas as admissões externas”, a partir das 20 horas, “de forma a garantir os cuidados adequados e em condições de segurança para os doentes internados”.

Os médicos pedem ainda o fecho do bloco de partos, dado “não ser possível assegurar a assistência aos partos distócicos ou a qualquer emergência de reanimação neonatal”, defendendo que “todas as grávidas com condições de transferência” devem ir para outras unidades hospitalares.

Em ambas as situações, os 30 subscritores consideram fundamental que o CHL “informe atempadamente a Saúde 24, o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes], os cuidados de saúde primários, hospitais em redor (nomeadamente de Alcobaça e Pombal) e a população”.

Os médicos exigem também que não seja aceite o desvio para o CHL da atividade assistencial do serviço de Obstetrícia (internamento, bloco de partos e urgência obstétrica) da maternidade do Hospital das Caldas da Rainha, lê-se no abaixo-assinado, dirigido ao diretor clínico do CHL e com conhecimento do presidente do conselho de administração, do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, da Ordem dos Médicos, da Federação Nacional dos Médicos e do Sindicato Independente dos Médicos.

No documento, datado de segunda-feira, a equipa médica do serviço de Pediatria denuncia, mais uma vez, que “não estão reunidas as condições de segurança para o exercício da atividade médica de qualidade na urgência pediátrica, no bloco de partos e na maternidade”, o que coloca em “risco a segurança de doentes e profissionais”.

Explicando que em novembro de 2022 e maio passado a equipa médica já tinha demonstrado “as preocupações com o funcionamento da urgência pediátrica”, os subscritores referem que “acresce agora outra situação”, devido ao fecho da maternidade de Caldas da Rainha, do Centro Hospitalar do Oeste, este verão, com o desvio para o CHL da atividade assistencial.

“Foi decidido que a equipa médica e de enfermagem do serviço de obstetrícia do Hospital das Caldas da Rainha viesse reforçar as equipas médicas e de enfermagem do Hospital de Santo André [Leiria]”, adianta, realçando que não foi decidido pela tutela o mesmo reforço do serviço de Pediatria”, pelo que “terá de manter o apoio já prestado anteriormente com a sobrecarga acrescida”.

Segundo a equipa, a situação “irá ser agudizada no período de verão”, com as férias. “Após todas as tentativas de solução demonstradas pelo serviço, não houve qualquer alternativa/atitude demonstrada pela administração e pela tutela no sentido da resolução” de uma situação que classificam de incomportável, é referido.

“Não temos elementos disponíveis para preenchimento de todos os períodos necessários de forma a elaborar a escala do serviço de urgência nos próximos meses, pelo que não vemos alternativa ao encerramento da urgência pediátrica [tal como funciona agora, 24 horas por dia, sete dias por semana], com apoio a maternidade, berçário, enfermaria, unidade de cuidados especiais pediátricos, unidade de internamento de curta duração e urgência”, acrescentam os profissionais.

Em 18 de abril, o Centro Hospitalar do Oeste anunciou que a maternidade do Hospital das Caldas da Rainha vai ser requalificada, obra que incide no serviço de Obstetrícia e no bloco de partos, e que obriga, até setembro, à transferência das grávidas para Leiria.

Sindicato diz que situação dos serviços de obstetrícia “vai piorar” devido à “exaustão” dos médicos

Já ontem, dia 3, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) garantiu que os constrangimentos nas urgências de obstetrícia e nos blocos de partos verificam-se em vários hospitais do país, alertando que a situação “irá piorar” nos próximos meses.

“O SIM desde há mais de um ano que tem vindo a alertar para a gravíssima situação que se vive nos serviços de obstetrícia na área metropolitana de Lisboa, bem como em outros pontos do país”, adiantou à Lusa o secretário-geral do sindicato.

Em vários hospitais do país registam-se “carências de escalas há muitos meses” na área da obstetrícia e da ginecologia, salientou Jorge Roque da Cunha, ao apontar os exemplos da área metropolitana de Lisboa, do Algarve e de Leiria.

“Este fim de semana no Algarve, na véspera de sábado, foram dois médicos deslocados de Portimão para garantir a urgência em Faro” e hoje o SIM recebeu uma “carta de colegas de Leiria, em que manifestam mais uma vez essa insuficiência” de médicos para assegurar as escalas completas, avançou o dirigente sindical.

Segundo Roque da Cunha, essa situação deve-se à “exaustão” dos médicos especialistas dos hospitais públicos, que em 2022 realizaram “cerca de 10 milhões de horas extraordinárias”.

“Em relação ao Hospital de Santa Maria e a muitos desses locais, a situação irá piorar” nos próximos meses, depois de muitos dos especialistas terem efetuado “300 ou 400 horas extra” cada um durante vários anos, alertou.

“Estamos a assistir este ano a uma atitude perfeitamente correta e justificável de médicos que não fazem mais do que as 150 horas [anuais] que são obrigatórias, daí que o Hospital de Santa Maria recorra aos privados” para os partos de baixo risco, referiu Roque da Cunha.

De acordo com o sindicalista, isto está a acontecer porque o Ministério da Saúde “não investe no reforço de médicos no Serviço Nacional de Saúde”.

“A questão de fundo tem a ver com essa incapacidade do Governo que não se irá resolver com propostas de aumentos salariais que nos foram apresentadas de cerca de 1,7% para os vários regimes de trabalho”, lamentou Roque da Cunha.

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