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Saúde

Novembro “vai ser o pior mês” de sempre na resposta de urgência, antevê o diretor do SNS

Urgências pediátrica e ginecológica/obstétrica do hospital de Leiria voltam a encerrar este fim de semana.

Urgências Ginecológica/Obstétrica e Pediátrica voltam a encerrar por falta de médicos Joaquim Dâmaso

Se o verão e o mês de outubro foram complicados no que toca ao funcionamento das urgências hospitalares, quer por falta de profissionais para completar as escalas quer pela recusa dos médicos em fazer mais horas extraordinárias do que o legalmente previsto, o mês de novembro adivinha-se ainda mais difícil.

Fernando Araújo, diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, admitiu isso mesmo esta semana numa entrevista ao jornal Público. Segundo o responsável, “Novembro vai ser extremamente complexo, vai ser o pior mês, eventualmente, nestes 44 anos do SNS, na resposta de urgência, se nada se alterar”.

No hospital de Leiria, o último fim de semana voltou a ser caótico para os utentes, tendo o Centro Hospitalar de Leiria (CHL) encerrado as urgências de Ginecologia/Obstetrícia e de Pediatria por falta de médicos.

E a situação repete-se este fim de semana. De acordo com um aviso partilhado pelo CHL na sua página do Facebook, a Urgência Ginecológica/Obstétrica vai estar de portas fechadas entre as 9 horas deste sábado, dia 28, e as 9 horas de segunda-feira, dia 30, enquanto a Urgência Pediátrica fecha entre as 9 horas de domingo, dia 29, e as 9 horas de segunda-feira.

Dada a falta de respostas em Leiria, o CHL recomenda a todas as grávidas ou utentes com problemas urgentes do foro ginecológico o contacto com a linha SNS 24 (808 24 24 24), de modo a “dar o apoio especializado e encaminhamento para a unidade de saúde mais apropriada”. Em casos urgentes, os utentes podem dirigir-se à Maternidade Dr. Bissaya Barreto ou à Maternidade Dr. Daniel de Matos, ambas em Coimbra.

No caso da Pediatria, o CHL recomenda o contacto com a linha SNS 24 e o recurso ao Hospital Pediátrico de Coimbra em situações urgentes.

À semelhança da semana passada, a Urgência Geral poderá ser ainda afetada nas áreas da Cirurgia e da Cardiologia, a exemplo do que sucedeu na passada semana por falta de médicos para garantir das escolas de serviços. Os doentes que necessitaram destas especialidades foram reencaminhados para Coimbra, entre outras unidades.

Entretanto, na última semana, a urgência pediátrica do hospital de Caldas da Rainha (Centro Hospitalar do Oeste) também encerrou durante o fim de semana entre as 14 horas da passara terça-feira e as 8h30 de quarta.

Estas situações despoletaram nova intervenção dos deputados do PSD eleitos por Leiria junto do Ministério da Saúde a quem exigem soluções “para colmatar as falhas registadas em diferentes serviços”.

Urgências atenderam na semana passada cerca de 20 mil utentes por dia

O ministro da Saúde disse esta semana estar a acompanhar com “alguma preocupação” a situação das urgências em novembro, mas assinalou que, apesar dos problemas, foram atendidos na semana passada entre 15 mil a 20 mil utentes por dia.

À margem da iniciativa, em Lisboa, que marcou o arranque da renovação da medicação para pessoas com doença crónica nas farmácias, e ressalvando que não quer diminuir a preocupação em relação à situação que os serviços estão a enfrentar, Manuel Pizarro afirmou que “a verdade é que até este momento” foram capazes de assegurar a resposta com o funcionamento em rede das urgências, que permitiu compensações.

“Nalguns casos, até se pode dizer que as compensações não causaram muitos problemas às pessoas. Se temos um problema na urgência de cirurgia de Barcelos, a compensação em Braga, enfim, não causa muito muitos incómodos”, adiantou.

Observou ainda que, apesar dos problemas todos que têm existido, o Serviço Nacional de Saúde, na semana passada, conseguiu atender diariamente entre 15 mil a 20 mil portugueses nos serviços de urgência.

Mas esta situação levanta dois problemas, sendo o primeiro, “grandes preocupações”, a “sobrecarga exagerada dos colegas que estão na urgência, que além de atenderem os doentes que se dirigiam normalmente a essa urgência também têm que atender outros doentes referenciados de urgências que não estão a funcionar”.

O segundo problema são as “zonas de maior interioridade, onde as distâncias são maiores” e precisam de “uma maior atenção”, disse, citado pela Lusa.

Questionado se entende que os portugueses possam ficar preocupados com o que possa acontecer nas urgências em novembro por falta de médicos para assegurar as escalas devido à recusa de fazerem além das 150 horas extraordinárias previstas na lei, afirmou: “Eu entendo que nós temos que dar um sinal de preocupação e de transparência sobre as dificuldades que estamos a enfrentar”.

Mas salientou que o Ministério da Saúde, a direção-executiva do SNS e as direções dos diferentes hospitais estão a fazer “todo o esforço possível para arranjar soluções, utilizando a rede do SNS, para que “se possam reduzir os casos em que a resposta possa ser mais difícil”.

“Conseguimos fazer isto durante o mês de outubro. Já houve várias perturbações e, ainda assim, com funcionamento em rede dos serviços, nós conseguimos arranjar respostas complementares de qualidade, de segurança, porventura com menos conforto, porque às vezes a distância que as pessoas têm que correr é maior, mas estamos a fazer esse trabalho e eu confio que vamos continuar a fazê-lo”, declarou.

Sobre se a solução passa pelos médicos fazerem mais horas de trabalho, o ministro reiterou que as horas extraordinárias são “um problema estrutural”.

“Nem sempre sou bem compreendido quando digo que a dependência do trabalho extraordinário dos médicos e de outros profissionais é que tem mantido durante décadas as urgências a funcionar, isto não acontece agora, isto acontece desde sempre. Significa que nós possamos conviver com isso tranquilamente? Manifestamente não podemos”, frisou.

Segundo Manuel Pizarro, é um modelo que precisa de ser alterado, mas para isso têm que se “criar boas alternativas para os cidadãos” que fazem parte de um plano que terá muitas medidas de maneira a alterar estruturalmente a urgência.

“Não chega dizer às pessoas que quando não precisam verdadeiramente de urgência, devem ir a outros serviços, é preciso que esses outros serviços estejam a funcionar e disponíveis para os atender”, vincou.

Também questionado sobre o que espera da reunião com os sindicatos médicos na próxima sexta-feira, o governante disse que estão a fazer “uma negociação séria, uma negociação de boa-fé” e que está confiante que vai produzir resultados.

“A boa-fé é uma coisa que não deve terminar nunca e o Governo já deu passos muito significativos para se aproximar das posições dos sindicatos médicos. É agora também o momento de aguardar pela contraproposta que os próprios sindicatos anunciaram que iriam fazer”, referiu.


Secção de comentários

  • VP disse:

    -“Novembro “vai ser o pior mês” de sempre na resposta de urgência, antevê o diretor do SNS”-.
    Independentemente dos problemas que ninguém pretende minimizar, apenas uma palavra: – Perplexidade-.
    Perplexidade para quem conduz negociações na pele das pessoas. Perplexidade para um Governo que “discute” a difícil situação. Não há nada a discutir, apenas uma situação grave a ser resolvida e também com a máxima urgência. Estamos falando de um Sistema de Saúde, Cardiologia, Pediatria, Ginecologia, fechado nos finais de semana..?!? Uma pergunta simples: -por que um cidadão deveria pagar impostos a um Estado que não tem condições, nem de lhe construir uma vida melhor, mas nem sequer de proteger a sua saúde…?!? Ter em troca as feiras de aldeia, as meias maratonas, Leiria Sobre Rodas..?!? E se uma criança estiver doente mandamo-la para Coimbra? Se um cidadão sofre um ataque cardíaco, mandamo-lo para Coimbra? E se ele não chegar lá? Estamos a falar da única proteção obrigatória que um Estado deve aos seus cidadãos, a quem impõe o pagamento de impostos, a Saúde. Dois números para maior clareza: – “de 2009 a 2015 Portugal recebeu uma contribuição líquida da Europa de cerca de 20 mil milhões de euros, só em 2017 recebeu 2,4 mil milhões de euros. Se não for nos cuidados de saúde, para que outras prioridades foi utilizado este dinheiro? Dada a situação, deixemos os médicos fazerem o que o Estado não pode fazer. Afinal, qual Médico poderia passar um fim de semana tranquilo de descanso sabendo que quaisquer emergências seriam desviadas para Coimbra ou pior…?!?

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