Que futuro pode esperar Leiria para a próxima década? A pergunta atravessou a sessão que esta tarde, no auditório do Instituto Português da Juventude de Leiria, reuniu os candidatos à presidência de Leiria e que vão a votos a 12 de outubro.
Com os dados deixados pelo estudo “Prospetiva 2035 – Três Cenários para o Futuro de Leiria e Oeste” do Politécnico de Leiria em cima da mesa, os candidatos à Câmara de Leiria não tiveram dúvidas em endossar o projeto de promover a instituição a universidade.
O estudo, inicialmente apresentado em abril, defendia que o salto competitivo de Leiria poderá assentar “na criação de uma universidade de excelência, articulada com um Instituto Europeu de Inovação e Ciência, capaz de ligar conhecimento, talento e indústria, permitindo acelerar a digitalização das empresas, estimular a formação avançada, atrair investigadores e empreendedores e potenciar a emergência de setores de elevado valor acrescentado”, revelou na altura o Politécnico de Leiria.
O estudo revela que Leiria tem o desafio de acelerar o crescimento, evitando divergir de outras regiões similares como Aveiro e Cávado, analisadas por uma estrutura de missão. Carlos Rabadão, presidente do Politécnico de Leiria, deixou as grandes linhas deste trabalho: se nada for feito, Leiria corre o risco de crescer menos que as outras regiões na próxima década. “Leiria tem de mudar a sua atitude do ponto de vista de ligação da academia e do território – já é grande, mas precisamos de a intensificar”, explicou. Caso a Universidade de Leiria e o Oeste surjam e o seu desenvolvimento seja alavancado nesta nova realidade, o cenário pode ser mais otimista. O que fazer?
A generalidade dos candidatos mostrou-se favorável à criação da universidade e deixou pistas para maximizar o desenvolvimento nesta área.
Branca de Matos, candidata do CDS-PP à Câmara de Leiria, deixou clara a necessidade de “apostar na universidade, nos recursos e em tecnologia”, capaz de alavancar o desenvolvimento. À esquerda da candidata centrista, candidato à reeleição, Gonçalo Lopes (PS), lamentou a “injustiça feita à região de Leiria” e que consistiu em não ter sido “colocado o Politécnico de Leiria no patamar de universidade na mesma altura em que outros foram colocados”. Agora o momento é de “focar na aposta do conhecimento” e mobilizar as “ações necessárias para que isso seja realidade”.
Assumindo estar mais focado em propostas e ações direcionados para o imediato, Luís Paulo Fernandes (Chega), concordou que o Politécnico de Leiria tem “feito bom trabalho e temos de aproveitar a sua implantação em mais concelhos”.
Reforçando que a passagem IPL para Universidade de Leiria e do Oeste é uma medida “fundamental”, Paulo Ventura, candidato da Iniciativa Liberal, salientou a necessidade de analisar as razões que levam a que uma região com pleno emprego tenha rendimento abaixo da média do país. Criar condições para a retenção de talento e desenvolvimento do tecido económico e a captação de investimento estrangeiro são algumas das medidas que preconiza. “Devemos dinamizar a CIMRL de outra forma e pensar em lógica regional”, exortou. “A universidade é um grande desafio para o IPL e para Leiria”, salientou Sofia Carreira, candidata do PSD. Será necessária mobilização, promoção de parcerias, argumenta, apontando para a aposta na criação de um parque de ciência e tecnologia em Leiria. A ideia passa por “reforçar o ecossistema da inovação e empreendedorismo”, sublinhou.
O rosto do ADN para a corrida à Câmara de Leiria, Nuno Henriques Barroso não dúvida da importância da universidade, assegurando que “Leiria precisa de uma universidade há 500 anos”. Contudo, “o ensino profissional é ainda mais importante. Faltam canalizadores, pessoas que trabalhem noutras áreas”.
Segundo Nuno Violante, candidato da CDU, a autarquia deve requalificar as zonas industriais e criar um parque tecnológico “robusto para o futuro”. E “a universidade é essencial”, lembrando igualmente o impacto que o comboio de alta velocidade terá na capacidade de “mudar Leiria”.
Recordando que já há década e meia defendia a criação da Universidade Politécnica de Leria, José Peixoto, candidato da coligação Avançar Leiria, reconheceu o impacto positivo da instituição na criação de conhecimento e na formação de bons profissionais, mas lamentou que Leiria tenha ficado crescentemente “descaracterizada”. “Se queremos atrair qualidade, temos de oferecer qualidade”, defendeu. Melhorar a oferta da saúde, da mobilidade pública, entre outras medidas, são essenciais para o conseguir, argumenta.
Ao debate, moderado por Francisco Santos, diretor do REGIÃO DE LEIRIA, foram igualmente somadas ideias para reforçar a oferta na área da habitação. Da disponibilização de fogos fora da cidade, com aposta na mobilidade melhorada, como sugeriu Luís Paulo Fernandes, à necessidade de expandir a cidade para os terrenos da Prisão Escola – apontada por Gonçalo Lopes – à relevância de agilizar os processos de licenciamento apontada por Paulo Ventura, não faltaram ideias.
Sofia Carreira insiste na aposta em habitação a custos controlados e em melhorar a qualidade da gestão do território, e Branca de Matos aposta na rápida criação de residências universitárias que libertem apartamentos para o mercado. Já Nuno Henriques Barroso exorta a necessidade da requalificação urbana e de aposta do planeamento urbanístico, enquanto Nuno Violante aponta a Carta Municipal da Habitação como instrumento central para identificar as carências e mapear os incentivos. José Peixoto, por sua vez, salienta a importância de dar uso a imóveis desocupados estudando a sua possível utilização para habitação.
Perante a diversidade de soluções apresentadas pelos candidatos, Jorge Portugal, diretor geral da COTEC – que em conjunto com o Politécnico de Leiria e o REGIÃO DE LEIRIA promoveram o debate desta tarde -, elogiou a capacidade de debate de ideias dos diversos candidatos e enfatizou a importância de conciliar as políticas de curto e longo prazo.
Jorge Portugal deixou ainda o desafio que é, afinal, a questão que terá de mobilizar a governança de quem assumir os destinos de Leiria: Que lugar irá ocupar no mapa da competitividade? “Não podemos fingir que temos muito tempo”, alertou. “Precisamos de boas ideias e de boa execução. Teremos de ter a coragem da transformação pelo conhecimento”.