O Geoparque do Oeste é um dos mais recentes tesouros naturais e científicos reconhecidos em Portugal. Este vasto território, que abrange os concelhos do Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Peniche e Torres Vedras, reúne uma combinação rara de riqueza geológica, paleontológica, cultural e paisagística.
São mais de mil quilómetros quadrados de terreno que contam histórias com centenas de milhões de anos, guardando vestígios de um passado em que o mar cobria grande parte do que é hoje terra firme e os dinossauros caminhavam por onde hoje circulamos de carro ou a pé.
A designação de geoparque não se refere apenas à geologia, embora esse seja o seu alicerce. Um Geoparque Mundial da UNESCO é, antes de mais, um território com um património geológico de valor internacional, gerido com uma visão integrada de proteção, educação e desenvolvimento sustentável.
Neste caso, trata-se de uma faixa costeira com cerca de 72 km, marcada por arribas, formações rochosas que testemunham o movimento das placas tectónicas, vales encaixados e rochas sedimentares onde se conservam fósseis únicos no mundo. Ao longo desta linha costeira e do interior próximo, encontram-se mais de 70 geossítios já identificados e classificados, muitos deles visitáveis e com sinalética interpretativa, permitindo a quem por lá passa compreender melhor a história profunda da Terra.
A riqueza paleontológica do Geoparque do Oeste é uma das mais relevantes da Europa e uma das grandes razões do seu reconhecimento.
Os fósseis encontrados na região da Lourinhã colocam Portugal no mapa mundial da paleontologia dos dinossauros. Vários géneros e espécies únicos foram descobertos nestas terras, como o Lourinhanosaurus antunesi, o Miragaia longicollum ou o Lusotitan atalaiensis, sendo também aqui que foram encontrados ninhos fossilizados com ovos e embriões, um achado raríssimo a nível mundial. O Museu da Lourinhã é, por isso, uma paragem obrigatória para quem quer mergulhar neste passado remoto, assim como o Dino Parque, com mais de 200 modelos, à escala real, dispostos em trilhos temáticos que percorrem diferentes períodos geológicos.

A paisagem atual do Geoparque do Oeste guarda também outros capítulos desta longa história, visíveis em locais como a arriba da Peralta (Lourinhã), onde se observa uma sequência geológica com dezenas de metros de altura, moldada pelo recuo do mar e pelas forças internas da crosta terrestre.
Em Paimogo, a conjugação entre a falésia e a vista oceânica dá lugar a um dos pontos mais emblemáticos do geoparque, onde, além da riqueza geológica, se destaca também o forte do século XVII.
1.154
O Geoparque do Oeste abrange atualmente 1.154 km², distribuídos por seis municípios. A integração já em curso de mais dois concelhos, Óbidos e Alenquer, bem como do arquipélago das Berlengas e uma vasta área marítima, irá alargar a área para mais de 3.000 km²
Já em Salir do Porto (Caldas da Rainha), ergue-se uma duna de areia com cerca de 50 metros de altura. A sua formação resulta da acumulação de areias empurradas pelo vento ao longo dos séculos, criando um fenómeno natural que, além de ponto de interesse geológico, é também muito procurado para atividades lúdicas.
Outro ponto de grande relevância científica e simbólica é o “Prego Dourado”, na Ponta do Trovão (Peniche), que marca o limite cronológico oficial entre duas épocas do Jurássico. Esta marcação torna Peniche um dos poucos locais do mundo onde se pode observar, num corte vertical nas rochas, a passagem geológica entre dois períodos. Este valor científico convive lado a lado com a beleza natural da costa, as ondas que fazem de Peniche uma meca do surf mundial e as tradições piscatórias que ainda se mantêm vivas.

O geoparque inclui ainda ecossistemas como a lagoa de Óbidos, um sistema lagunar costeiro de grande importância para as aves migratórias, e o planalto das Cesaredas (Bombarral e Cadaval), uma área de relevo cárstico com grutas, algares e uma flora única.
Além da componente geológica e natural, o Geoparque do Oeste investe também na vertente cultural e identitária das comunidades. São valorizados o artesanato tradicional, como a renda de bilros de Peniche ou a cerâmica das Caldas da Rainha, a gastronomia regional com destaque para os peixes e mariscos frescos, e os vinhos produzidos nos solos férteis do interior.

Para quem gosta de caminhar, o território oferece uma extensa rede de percursos pedestres. Existem pelo menos 28 rotas sinalizadas, agrupadas por temas como património natural, histórico, agrícola ou religioso. Existem também 11 percursos motorizados, organizados para quem prefere descobrir o território de carro, incluindo uma rota acessível, permitindo que pessoas com mobilidade reduzida possam fruir da paisagem e do património.
70
São já mais de 70 os geossítios classificados, que testemunham mais de 200 milhões de anos de história da Terra. O território oferece 28 rotas pedestres temáticas e 11 percursos sobre rodas, incluindo uma rota para pessoas com mobilidade reduzida
O envolvimento das populações locais é uma prioridade para a gestão do Geoparque, assegurada pela Associação Geoparque Oeste (AGEO), criada em 2018. Esta entidade promove ações de sensibilização nas escolas, oficinas com artesãos e agricultores, formações para guias turísticos e iniciativas culturais em colaboração com autarquias, museus e universidades. O objetivo é fazer com que o território se desenvolva de forma sustentável, mantendo os seus valores patrimoniais e criando oportunidades para quem nele vive.
Recentemente, em maio de 2025, decorreu o primeiro Festival do Geoparque Oeste, que reuniu centenas de participantes em atividades tão diversas como caminhadas interpretativas, provas gastronómicas, oficinas de olaria, concertos ao ar livre e visitas guiadas a geossítios.

Atualmente, o Geoparque do Oeste encontra-se num ambicioso processo de expansão. Já estão celebrados acordos com os concelhos de Óbidos e Alenquer com vista a um alargamento que se estende também ao arquipélago das Berlengas e uma relevante área marinha adjacente. Com esta expansão, o território passará de seis para oito municípios, e a área total aumentará dos atuais 1.154 km2 para mais de 3.000 km2.
A nova candidatura à UNESCO deverá ser submetida ainda este ano, estando a decisão final prevista para 2027.
Cronologia
17 de maio, 2017
Assinatura da carta de intenções em criar o Aspiring Geoparque Oeste.
15 de março, 2018
É assinado o Memorando de Entendimento pelos cinco municípios fundadores (Lourinhã, Torres Vedras, Peniche, Bombarral e Óbidos)
27 de setembro, 2018
É constituída a AGEO – Associação Geoparque Oeste
27 de março, 2024
O Geoparque Oeste é oficialmente reconhecido como Geoparque Mundial da UNESCO
11 de maio, 2024
É realizada a Gala do Geoparque Oeste para celebrar a chancela da UNESCO
PNSAC quer ser Geoparque Mundial da UNESCO
O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) pode vir a tornar-se um dos próximos Geoparques Mundiais da UNESCO em Portugal. O projeto está a ser impulsionado por um conjunto de entidades locais, com destaque para os sete municípios que integram o parque (Alcanena, Alcobaça, Ourém, Porto de Mós, Rio Maior, Santarém e Torres Novas) e pela ADSAICA – Associação de Desenvolvimento das serras de Aire e Candeeiros.
A candidatura pretende valorizar o vasto e singular património geológico da região, aliando a sua proteção a estratégias de educação ambiental e de desenvolvimento sustentável, com envolvimento ativo das comunidades.
A base desta proposta está na riqueza geológica do território, que se estende por cerca de 38.400 hectares e cobre grande parte do Maciço Calcário Estremenho. A paisagem, marcada por formações do Jurássico, revela um autêntico museu geológico a céu aberto. Em 2015, foi publicado um roteiro oficial de geossítios para promover a conservação e valorização do parque. Entre os locais mais emblemáticos está o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios, na pedreira do Galinha, com trilhos fossilizados de saurópodes com 175 milhões de anos.
A riqueza subterrânea é outro trunfo. O parque conta com mais de 1.500 grutas e algares, incluindo as célebres grutas de Mira de Aire, de Santo António e Alvados, o algar do Pena e a gruta do Almonda. À superfície, destacam-se formações cársicas como os poljes de Minde e Alvados, a Fórnea, os campos de lapiás e a arriba fóssil da serra dos Candeeiros. Já a água, apesar de escassa à vista, revela-se essencial em locais como as nascentes do Alviela e as salinas de Rio Maior.
A “reunião zero” para discutir a candidatura decorreu em 2021 e, desde então, os contactos com outros geoparques têm servido para preparar o caminho. Em paralelo, foi apresentado, em janeiro de 2024, um Plano de Cogestão para o PNSAC, com investimento previsto de 76 milhões de euros até 2027.
Joel Ribeiro (textos)