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Opinião: Um farol para a cultura

[O Festival Música em Leiria] É ainda o evento cultural a atrair mais forasteiros à região. Que parece querer recuperar tempo apostando no turismo cultural.

Henrique Pinto, presidente do Orfeão de Leiria

Poucos sociólogos lusos abordaram o trabalho das organizações culturais privadas ou do associativismo cultural. Ora, a funcionalidade dos grandes eventos culturais na visibilidade e projeção supralocal foi uma das descobertas principais dos últimos anos.

Em julho de 1983 o Orfeão de Leiria lançou o Festival Música em Leiria, consonante com a tríade de eixos de desenvolvimento anunciada cinco meses antes. Impunha-se um grande acontecimento cultural deste jaez no contexto de indecisões da política cultural local, de estagnação. Assumia-se como um referencial de qualidade, de excelência institucional e artística, um farol suscetível de iluminar novos caminhos para a praxis cultural, tanto da casa como da envolvente territorial, em estreita ligação transversal com as autarquias da região, sem reservas de qualquer ordem.

Com orçamento mínimo, sobretudo privado, a 30ª edição do Festival, de notável qualidade, preiteará o primeiro Coral do Orfeão, gérmen desta política. Em épocas agudas é saudável recusar o miserabilismo que a ninguém estimula. Quase tudo o que “mexeu” em associações e autarquias da região em três décadas refletiu o brilho da luz de tal farol. É ainda o evento cultural a atrair mais forasteiros à região. Que parece querer recuperar tempo apostando no turismo cultural. Tais manifestações, ao aceitarem o carácter cultural do entretenimento e do lazer, são instrumentais no legitimar social, económico, político e simbólico da cultura.

(texto publicado na edição em papel de 13 de abril de 2012)