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Ansiolítico urbano: 2027. Cidadãos com mais olhos

Para fugir deste presente, ando a pensar como estaremos em 2027, daqui a uns tangíveis 15 anos e não a uns, por exemplo, 30 que nos poriam em 2042.

Ana Bonifácio, arquiteta urbanista ab@anabonifacio.com

Para fugir deste presente, ando a pensar como estaremos em 2027, daqui a uns tangíveis 15 anos e não a uns, por exemplo, 30 que nos poriam em 2042.

(Note-se, exatamente, à distância a que estamos de 1982, data em que, no cinema, Blade Runner desenhava, para 2019, um futuro de humanos manipulados por andróides numa tecno-cida­de de urbanismo predatório alicerçada num megabazar chinês). 2027 parece ser o ano certo para dedicar uma “inquietação urbana” do futuro. De acordo com a New Cities Foundation, a cada hora, as cidades acolhem cerca de 7.500 novos moradores. Em 2027, daqui a umas 131.400 horas (não fosse a tendência ser exponencial), aos atuais 3,2 biliões de urbanitas do mundo, acresceriam outros quase mil milhões. Como se vai viver e gerir o espaço urbano desse tempo se, já hoje, se redefine (e drasticamente) o quotidiano coletivo de uma sociedade cada vez mais suportada nos fluxos de informação, na tecnologia, na eficiência e na inteligência dos sistemas? Veja-se, por exemplo: em Boston o governo local criou um mecanismo que, através de uma aplicação concebida para o efeito, permite que qualquer habitante, via smartphone (pois!), reporte anomalias do espaço público, de modo a chamar, na hora, os serviços competentes. Já os “andróides” estão ao serviço dos humanos para que estes, enquanto cidadãos, sejam os olhos de quem decide a cidade. E a seguir?

(texto publicado na edição em papel de 9 de março de 2012)