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Ansiolítico urbano: 2027. Cidades pop-up

Podemos, hoje, ser mais rápidos, fazer e saber mais. Assim chegámos a 2012: mais “funcionais” e cheios de poder na ponta dos dedos!

Ana Bonifácio, arquiteta urbanista ab@anabonifacio.com

Podemos, hoje, ser mais rápidos, fazer e saber mais. Assim chegámos a 2012: mais “funcionais” e cheios de poder na ponta dos dedos!

Enquanto descemos a rua podemos, ao mesmo tempo, ler o jornal, marcar consultas, trabalhar e atualizar o perfil. Somos (ainda) homo sapiens (e sapiens) mas, a partir de fora, aumentaram-nos as “funcionalidades”.

Porém, ao mesmo tempo, enquanto descemos a rua, a cabeça vai “curva”, os passos vão cegos e os olhos sem amplitude. Logo, perdem-se as imagens e as pessoas que passam. Perde-se a cidade.

Não vamos querer que, para se lhe dar atenção, se enfie a cidade no telefone porque, isso, já está! Não vamos querer perder mais tempo em ganhar tempo porque, de certeza, vamos perder muito mais do que ganhar.

E, sobretudo, não vamos querer que as cidades se adaptem a dispositivos mas, eventualmente, às pessoas. Pessoas que, se trabalham mais, precisam de mais para serem felizes enquanto não trabalham.

De “regresso” a 2027 – já só faltam 15 anos! – quero querer que, também com a tecnologia, se possa fazer das cidades e do seu espaço público, áreas lúdicas coletivas como se de uma espécie de grande parque infantil, dos zero aos cem anos e adaptado ao futuro (e aberto, naturalmente!), se tratasse.

Quero acreditar que, ao virar da esquina, pode haver surpresas: um escorrega ao pé das escadas, uma livraria ou um quiosque sobre rodas.

(texto publicado na edição em papel de 30 de março de 2012)