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Ansiolítico urbano: Meninos do rio (II)

Falamos ainda do percurso líquido de 39,5 km que é o Lis e dos lá nascidos e criados. Entre vinhas, hortas, vacas e outros bens, esses meninos crescidos é lá que estão.

Ana Bonifácio, arquitecta urbanista ab@anabonifacio.com

Falamos ainda do percurso líquido de 39,5 km que é o Lis e dos lá nascidos e criados. Entre vinhas, hortas, vacas e outros bens, esses meninos crescidos é lá que estão.

Em Leiria podemos ir à “terra”. Enquanto não tivermos, forçosamente, que trazer a “terra” para dentro da cidade ou da casa, podemos gozar o luxo de ter uma “vida rural” para onde se leva pouco mas de onde se traz tanto. “Forçosamente” porque, na verdade, há já muito (e em todo o lado) que há bocados de campo na cidade e bocados de cidade no campo. Sabemos que essa dicotomia territorial “já era” e nenhum dos dois prescinde do outro.

Em Leiria, ter os Campos do Lis é uma expressiva vantagem. A vantagem feita oportunidade! No tempo de todas as crises, se há desafios e soluções de futuro, é pensar neles – da parcela agrícola aos vasos – como potencial agroalimentar e como territórios para a valorização da saúde, do social e da cultura. E, por isso, da economia. À lógica das pequenas intervenções de escala familiar ou comunitária deverá juntar-se um olhar amplo, largo e até mesmo público – seja qual for a origem do investimento – para estas porções de terra pública ou privada. Sem querer mudar o mundo (nem mesmo o regime de propriedade) há futuro no “ir à terra” e fazer dela um plus do pretensioso “status quo urbanita”. E é ir enquanto os meninos do rio lá estão. A mudança só acontece com eles.

(texto publicado na edição em papel de 16 de Dezembro de 2011)