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Ansiolítico urbano: Periferia para ir de férias

Num número que já lá vai, um amigo escreveu-me lançando o “velho desafio do debate das periferias de Leiria, cada vez mais ‘guetizadas’ e entregues a sociabilidades explosivas”.

Ana Bonifácio, arquiteta urbanista ab@anabonifacio.com

Num número que já lá vai, um amigo escreveu-me lançando o “velho desafio do debate das periferias de Leiria, cada vez mais ‘guetizadas’ e entregues a sociabilidades explosivas”.

Trouxe-as agora. Mais uma vez recordo o “donut urbano” em que se transformou a cidade e, dele, o “buraco” que se esvazia de gente e de funções: o centro.

Importa hoje o que está à sua volta: Uma “massa fofa” que, neste caso, vai engordando de habitantes cada vez mais autónomos (mas, note-se, ainda subalternos e dependentes) das funções das centralidades de origem e que, também por isso, estão tendencialmente mais próximos da condição de se ser “periférico”, pertencer a territórios marginais, de exclusão, ausentes de espaço político e dos circuitos de decisão. (Quer para escolher, quer para ser escolhido).
Mesmo assim, na última década (como comprovam os últimos censos), esta “massa fofa” continuou a recrutar inquilinos interessados em preços baixos ou condomínios de sonho. A massa continuou a estender-se.

Por tudo o que estas periferias têm sido e vão sendo, já lhes chegou a patine. Chegou-lhes, portanto, também, o desafio de qualquer um dos “res”– requalificar, reabilitar ou regenerar (até há pouco um exclusivo dos centros) para se tornarem “novas periferias” ou os lugares para onde não só se quer ir morar mas, um dia, se há-de querer ir de férias.

(texto publicado na edição em papel de 17 de fevereiro de 2012)